segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Portinari: mais Paz que Guerra.

Em 6 de fevereiro de 1962 Cândido Portinari morreu aos 58 anos, em decorrência de uma intoxicação pelas tintas a óleo que usava em suas telas, que na época tinham metais pesados em sua composição, em especial o chumbo. Infelizmente não há manchete sobre isso na internet, por motivos óbvios, e se há alguma reprodução de jornal não encontrei, visto que a minha capacidade de "me virar" na web é menor que a de qualquer avó que jogue buraco online. Enfim, temos a data da morte e sua notícia fica por conta da imaginação dos leitores. Obituários não diferem muito, se não levarmos em conta que aqui falamos de um importante brasileiro.

Pois bem, morreu envenenado por suas tintas. Havia consciência de que isso aconteceria um dia, visto que declarou que não iria deixar de terminar suas telas "Guerra e Paz" (expostas no Municipal do Rio de Janeiro em dezembro do ano passado) por causa de um eventual risco de vida. Devemos lembrar, aqui, que as telas em questão demoraram três anos para ficarem prontas e logo após sua conclusão em 1956 foram enviadas à sede da ONU em Nova York, onde seu autor nunca pôde vê-las expostas pelo fato de não poder entrar nos Estados Unidos (por ser filiado ao Partido Comunista Brasileiro). Isso nos traz uma reflexão, pequena porém constante: até que ponto você luta por algo? Até onde vai sem sentir que está em prejuízo; na plena convicção de que não há nenhuma outra coisa no mundo que torne a sua vida mais genuína, mais digna de ser vivida?

Não faço idéia do que seja arte senão este amor completamente livre e preso ao mesmo tempo - livre pois este artista entregou ao mundo o seu maior trabalho para que os outros pudessem apreciá-lo; e preso porque abriu mão de sua saúde para continuar fazendo o que gostava. Não sei se "preso" é a palavra mais adequada aqui. Fica como outro motivo para reflexão.

 reprodução das telas "Guerra e Paz" (1953-56)


fontes: http://migre.me/3Puq4 e http://migre.me/3PuyO

9 comentários:

  1. Eu adoraria saber qual é o gosto de querer tanto uma coisa. De fazer disso a razão da sua vida. Acho lindo.

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  2. É paixão demais, né?

    Realmente, um exemplo. Não falo para seguirmos o exemplo de morrer pela causa, mas de pelo menos ter uma paixão.

    As pessoas se ocupam mais com paixão por pessoas, que são as mais desgastantes e as que menos geram crescimento.

    E não dá pra entender pq Portinari fez, se não soubermos o que é amar algo, assim como ele amou a arte... dá apenas pra achar lindo, ou abusrdo... emitir uma impressão ou julgar superficialmente.

    Entender Portinari, só vai entender quem sente/sentiu algo parecido com o que ele sentiu. E não, esse não é meu caso.

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  3. Portinari morreu envenenado pelas tintas que o libertaram de outros venenos da vida.

    Acho que é melhor escolher de qual 'veneno' irá morrer, pq qm não escolhe, como diz minha mãe, será escolhido.

    Acho lindo Guerra e Paz.

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  4. Morreu envenenado pelo que mais gostava de fazer... Quantas pessoas morrem sem ao menos a descoberta do que gostam e do que lhes toca o coração... Muito auto-reflexivo esse texto. Gostei!

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  5. Cândido Portinari e Di Cavalcanti são, para mim, um dos maiores representantes das artes plásticas. Nas telas de Portinari estão as assinaturas de seu estilo. E a hipocrisia estadunidense foi sensacional.

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  6. eu não sabia que ele havia morrido assim... vige!
    gostei do post. parabéns pela feliz escolha, Aline.

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  7. Linda história de vida - e de morte também - do Portinari. Nietzsche costumava dizer que devemos morrer na hora certa. Talvez seja esse o caso em questão.

    Belíssima reflexão!

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  8. Acho que o Portinari ainda precisa ser mais reconhecido aqui no Brasil.

    Então, é difícil se apaixonar assim por alguma coisa, né? Mas acho que falta de comprometimento é uma coisa que está cada vez mais recorrente.

    =*

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  9. Não é difícil se apaixonar por uma causa,seja ideológica, filantrópica, artística, ou profissional. O que move o mundo é a paixão. Cândido Portinari foi um operário da arte no sentido amplo e poético da palavra. Trabalhou incasavelmente para divulgar a nossa cultura, costumes, etc. a obra dele encerra todos os aspectos em que a paixão se manifesta. Louvo a iniciativa de João Cândido Portinari, em nos brindar com a presençA dessas duas peças maravilhosas enquanto o edificio da ONU encontra-se em reforma. Deveria vir até Brasíçia.

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