Uma religião, um líder religioso ou um fiel qualquer só ganham o meu respeito quando eles praticam e vivem aquilo que pregam. Do contrário - e isso é uma conclusão bastante óbvia - trata-se de mera hipocrisia.
Ao contrário do que muitos pensam, o fato de eu trabalhar com a psicanálise (teoria científica formulada pelo judeu-ateu Sigmund Freud) não me faz ter nenhuma concepção a priori ou preconceituosa sobre religiões/pessoas religiosas. À parte o fato das experiências religiosas de uma pessoa dizerem muito sobre sua constituição psíquica, eu tenho um interesse muito pessoal pela relação entre as religiões e as culturas que as envolvem, geram e são geradas por elas. Leio tudo o que posso e o que cai na minha mão sobre qualquer religião que seja, desde as brochuras distribuídas pelos Testemunhas de Jeová até os manuais das bruxinhas-adolescentes-pseudo-neopagãs-wiccanas-de-internet, passando por livros evangélicos, católicos-apostólicos-romanos, espíritas e chegando até às religiões africanas, indígenas e orientais.
Evidentemente, no meio de toda essa "salada mística" (embora meu interesse por religião seja cultural e antropológico), tenho as minhas preferências e afinidades. Dentre essas constam as religiões orientais e, dentre elas, o budismo em particular. Sou extremamente simpático ao budismo, notadamente a linhagem zen e a tibetana - que está em questão na manchete que inspirou este post.
O budismo tem um conceito muito interessante chamado "caminho do meio". Trocando em miúdos, trata-se de uma postura existencial de tentar evitar, sempre que possível, a radicalidade cega e alienante dos extremos. Outro conceito budista bastante difundido - e auto-explicativo - é o desapego.
Pois bem, comecei meu texto falando que admiro religiosos que vivem na prática aquilo que pregam na teoria/doutrina. São desses, a meu ver, que vêm os melhores exemplos: Gandhi, Chico Xavier, Francisco de Assis e Madre Teresa de Calcutá, só para citar alguns. Na minha perspectiva, o Dalai-lama já merecia estar nessa lista antes mesmo desse desligamento. Quem conhece sua história ou assistiu ao filme "Sete anos no Tibet", com o Brad Pitt, sabe da postura gandhiana de não-violência que ele tem adotado desde a ocupação chinesa no Tibete. Agora, depois de ter lido essa notícia, meu respeito por esse grande líder só se fez aumentar. Muitas vezes, romper o grilhão - quase sempre pesado - de tradições culturais/religiosas é o que melhor pode ser feito para preservar a própria tradição que se está defendendo. No entanto, tal atitude exige precisamente coragem, renúncia, bom senso e equilíbrio. Se isso não pode ser chamado de "caminho do meio" e "desapego", sinceramente eu não sei mais o que pode.
Quanto às religiões e seus adeptos e líderes penso exatamente como você, Paulo. Exímio texto. A traição mantém a tradição!
ResponderExcluirPC (post commentarium): gargalhei com o "bruxinhas-adolescentes-pseudo-neopagãs-wiccanas-de-internet". É mais engraçado quando essas bruxas lançam um cara blasé dizendo, "cuidado, sou uma bruxa, não me contrarie".
Dizem que em casa de ferreiro o espeto é de pau.
ResponderExcluirHá coisas em que, de fato, devem ter que ser assim. Concordo.
Mas quando se trata de religião, viver aquilo é uma questão de ética. Muito fácil falar dos padres pedófilos, não?
Texto, como sempre, rigorosamente bem escrito.
Gostei bastante do texto, na verdade eu não havia nem mesmo prestado atenção a notícia, mas agora "prestei", e ainda levei de brinde uma reflexão supimpa sobre o fato. =)
ResponderExcluirMuito bom, o texto e a reflexão!
ResponderExcluirCaramba!
ResponderExcluirtexto top heim!!! o/
=D
E o desapego é difícil de praticar, não é? Porque muitas vezes não somos apegados ao dinheiro, mas somos à sentimentos nocivos e etc.
ResponderExcluirEle serviu, serve e servirá sempre de exemplo. E é mto raro encontrar pessoas que aguentem estes 3 tempos.
=]
Meu comentário não vai ter muito a ver, mas:
ResponderExcluirestou lendo um livro, "Os Pilares da Terra" e fala muito sobre religião.
O monje Philip só conseguiu o respeito (na história do livro) porque vivia segundo as regras de São Bento, coisa que todos os monges deveriam seguir (monges benetinos) mas eles não seguiam... alguns nem eras muitos cristãos, estavam mais pensando em certos poderes descritos no livro...
Fé não é sinonimo de religião, que não é sinomo de igreja, que não é sinonimo de "se ter boas intenções" que não é sinonimo de Deus
Ah, já vivi uma fase de "bruxinhas-adolescentes-pseudo-neopagãs-wiccanas-de-internet" no auge dos meus 16 anos!
ResponderExcluirSeja qual caminho tomarmos, a singularidade está em praticar e viver aquilo que escolhermos. Desapego é uma prática complexa dada a impermanência da realidade do mundo em que vivemos.
Sinto que é necessária muita disciplina e sabedoria. Esse é o exemplo de Dalai-lama.
Fé não é sinonimo de religião, que não é sinonimo de igreja, que não é sinonimo de "se ter boas intenções" que não é sinonimo de Deus [2]
ResponderExcluircaraca q legal oq a Priscila falou!
"só ganham o meu respeito quando eles praticam e vivem aquilo que pregam"
ResponderExcluirNa minha concepção isso é aplicavel a qualquer pessoa! Chega do falso moralismo e do "faça o que eu digo nao faça o que eu faço"
Assuma seus erros, assuma você!