quarta-feira, 27 de julho de 2011

Amizades oportunas

Ministro do STF viaja para a Itália a convite de advogado

Fico chateada quando vejo coisas como as cenas gravadas pela câmera de segurança em que, depois de bater seu precioso Porsche (pareceu-lhe irrelevante ter matado alguém com a colisão), o motorista rapidamente pegou seu celular e ligou para seu advogado.

Não serei radical e dizer que isso não é uma boa coisa a se fazer (ligar para um profissional para obter instruções), mas é que no Brasil, você liga para seu amigo advogado para saber o que inventar para dobrar os depoimentos e, posteriormente, a Justiça. A falta de policiais, peritos e aparatos suficientemente competentes para arquivarem dados precisos, nos fazem falta, são raros (por exemplo, quiseram condenar  os "Nardoni", inclusive, a perícia identificou, na época, que a cena do crime tinha sido alterada, e trabalharam firmemente para isso).

Enfim, voltando ao assunto, nessa de que "ninguém viu" "ninguém filmou" "ninguém sabe", o que nos resta é engolir a triste realidade de que, quem conta a melhor história, sem quebras, sem contradições e permanece calado até ser julgado, sendo instruído por um advogado que só quer o dinheiro do seu cliente (e não efetivamente Justiça), pode conseguir sua liberdade.

Pior ainda (embora, já desiludida com o Brasil, não me assusta) é quando se tem uma notícia dessas no jornal: "Advogado pagou estadia de ministro do STF". Estadia na Itália (mais detalhes, na reportagem).

Se você ligar para um advogado que tenha amizade com algum juiz, desembargador, ministro, não precisará montar um bom repertório e se ocupar com um álibi que convença. Se o advogado é amigo do "togado", então as coisas serão melhores ainda (e mais caras, eu acredito).

Sobre a notícia, obviamente, os colegas do ministro dirão que foi uma cortesia, aceitada de forma equivocada... Coitado! O ministro só foi assistir o casamento do amigo, nas Ilhas de Capri, da Itália.
Punição? Um puxão de orelha e que o ministro envolvido seja afastado nos processos em que o rico advogado atuou.

Uma sutil forma de resolver o caso: jogar debaixo do tapete. Porque sabe-se lá quem mais foi em festa de casamento, batizado ou baile de debutante às custas de advogado.
Quem tem rabo preso, não vai bater de frente com isso tudo. Mesmo porque se tirar o tapete debaixo de todo mundo, o que vai ter de ministro pegando o telefone e ligando para "aquele advogado, amigo meu"...


P.s: Me chamo Helen, começo a partir de hoje a postar no blog (que honra!), sou advogada e espero fazer amizade com todos os blogueiros. E... o que mais posso dizer? Hum... e... desejo a paz mundial. (!?)

4 comentários:

  1. "Todo réu tem direito a um advogado" e muitos advogados passam a ser advogados do diabo.

    Nesse cenário, é difícil ver alguém subir na carreira sendo totalmente ético, e impossível confiar que o supremo está cheio de santos.
    Se puxar o tapete pra ver o que há embaixo, não sobra ninguém. =(

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  2. Bem vinda Helen!
    Exato, estamos no mundo do QI...

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  3. É, e certamente não deixaram o Ministro do STF repousar na suite mais barata do Capri Palace Hotel.

    ¬¬

    Seja bem-vinda!

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  4. Levei dias pra ter tempo de comentar esse texto, mas quis faze-lo desde que o li.

    A nomeação de Toffoli já havia sido amplamente criticada. Nunca foi um homem gabaritado para se tornar Ministro do STF.

    Vivendo em Brasília, sei bem como funciona a "camaradagem", os favores prestados por advogados e interessados em geral.

    A essa altura, o tapete já tem tanta sujeira que já se criou um elevado do tamanho de uma colina.

    E os cegos fingem não ver...

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