sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

“Braços abertos num cartão postal”.



Uma das coisas mais divertidas de se observar no comportamento humano é a relativização das situações. O certo se torna errado, o errado se torna certo... tudo depende do papel ocupado pelo indivíduo que descreve a situação, ou detentor do poder de “mandar” na situação.

Não faz muito tempo, em um grupo contra corrupção do qual faço parte no facebook, uma brasileira residente na Suíça fez um longo discurso contra todos os nossos colegas latino-americanos porque, segundo ela, todos invejam os brasileiros. A moça fez trocentas reclamações quanto ao tratamento dispensado aos brasileiros no exterior,  ao mesmo tempo  em que defendia a expulsão de todos os imigrantes que aparecerem pelo Brasil, algo bastante controverso, visto que ela pretende continuar morando na Europa...

Eu tentei perguntar por que ela achava certo discriminar mas achava errado ser discriminada, mas aparentemente ela não entendeu a minha pergunta, porque me chamou de ingênua e me recomendou uma experiência fora do país pra entender do que ela estava falando. A moça não foi sequestrada, a moça não é uma mulher escravizada... É uma advogada, crente da própria inteligência e de sua superioridade, não quer voltar pro Brasil (embora esteja livre para isso), mas quer me ensinar a tratar mal os imigrantes. Eu, particularmente, não tenho nada contra imigrantes, e acho pouco provável que nesta vida eu decida tratar mal alguém por conta de sua nacionalidade... Mas vamos adiante...

Atualmente, o Brasil está visado, tanto por imigrantes que procuram fugir da crise econômica dos países ricos, quanto por imigrantes que precisam fugir do caos dos países mais desesperados... Não consigo calcular o grau do desespero da galera que vê aqui um mar de oportunidades, mas a maneira como o brasileiro lida com isso me causa uma vergonha brutal. A campanha é para fechar as portas para os imigrantes dos países desenvolvidos, vingando as deportações já sofridas por brasileiros, e também fechar as portas para aqueles que vem dos países em caos, afinal, quem quer mais pobreza?

Eu sei que a questão é complexa, e que não é possível abrir as portas pra galera, como se isso não impactasse a economia do país, ou serviços públicos como saúde e educação... Sinceramente, tenho minhas discordâncias com o governo atual, mas acredito que ele está tentando gerir a situação da melhor maneira possível. Contudo, é quando você ouve a opinião geral dos brasileiros a respeito de questões como essa, fica perceptível que há muito pra se evoluir no quesito “olhar além do umbigo”.

Não estou defendendo um Brasil dos estrangeiros, nada disso... Só estou rindo, pra não chorar, porque é evidente que o mundo sofre de um problema que independe de nacionalidade, o problema de ser habitado e governado por humanos. =(

3 comentários:

  1. Bom, o Brasil tem um problema com migração, de forma geral. Vivendo em Brasília isso fica bastante evidente.

    Começou com os candangos. Ainda hoje, o brasiliense está no máximo, para os procriadores mais ávidos, a duas gerações de migrantes, ainda que a grande maioria seja mesmo filha de algum imigrante.

    Ainda assim falam dos "cearenso", "paraibas", e tantos outros, como se fossem saxões de linhagem pura. =P

    Há comportamento similar em SP, RS, SC... todo mundo do mesmo jeito.

    ResponderExcluir
  2. "o problema de ser habitado e governado por humanos"
    profundo isso, acho q é bem por aí mesmo...

    ResponderExcluir
  3. Próxima lição para a humanidade: não somos habitantes de país x ou y. Somos habitantes do mundo.

    ResponderExcluir