terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ajudar não dói (?)


Lembro-me de que havia um desenho animado, chamado Eek, The Cat, no qual, em um dos episódios, o dito gato, vendo um amigo em apuros vai ajudá-lo. Questionado pela namoradinha que diz que poderia ser perigoso ele solta a frase "Ajudar não dói!". E se ferra.
Em uma sociedade em que o cooperativismo só presta, forçosamente, se der lucro, o virar o rosto premido por aquela velha crença de que "se não é problema meu, por que me preocupar?", atitudes solidárias frequentemente são chamadas de "loucuras", "falta do que fazer", etc., etc.
Não me refiro àquela solidariedade midiática, de sorriso envernizado e que parece dizer, com um sorriso falsamente tímido "ah, que não queria aparecer, mas já que é pra aparecer, né?". Não que toda solidariedade que ganha publicidade seja falsa ou puro marketing, longe de mim, é sabido de iniciativas louváveis, mas quantas atitudes silenciosas passam despercebidas (ou não) a nós?
Dessa forma, se alguém apoiar os desabrigados de Pinheirinho está ajudando criminosos que estão tirando vantagem da situação  gente oportunista que tem casas e estão ali de enxeridos, é um idealista de quinta categoria, bem como apoiar os estudantes contra o aumento das passagens do transporte público em Recife, Vitória ou Teresina é um desocupado de carteirinha.
O mais insólito disso tudo é ver o outro lado da moeda. As pessoas já não ajudam não ajudando e, não satisfeitas, estribadas na crença do "tudo é permitido e ninguém se importará" fazem coisas horrendas, pior, sempre em grupo, e, num país como o nosso, cientes da impunidade.
Já deixei de discutir na rua com gente que fura a fila, por exemplo. Um dia, sentindo-me tremendamente ofendido por ver um engraçadinho ter feito isso, reclamei, ao que o valentão puxou um estilete e disse que se eu estivesse muito incomodado, poderia tentar tirar da mão dele. Depois que deixei o rapaz ir embora no ônibus que chegara, ouvi das pessoas da fila que não ficaram "Pois é, a gente deveria reclamar mais, para evitar que gente assim se achasse" ao que eu perguntei "E por que não reclamaram AGORA, junto comigo?"
Pois é.
Essa certeza de que a sociedade deixa passar coisas tão "banais" é que faz com que criminosos pintem e bordem. Como no caso do Vítor Suarez, lá no Rio. Vendo um grupo de jovens (provavelmente do mesmo naipe dos filhinhos de papai que jogam ovos da sacada para atingir os transeuntes, atiram impropérios e spray de pimenta no rosto das prostitutas do calçadão e socam mendigos na rua - quando não tocam fogo neles) perturbando um morador de rua, ele foi defendê-lo e por pouco não morre, ficando com fraturas múltiplas na face. 
Por mais que um dos bandidos tenha se entregado à polícia, imagino a frustração do Vitor ao imaginar que sua tentativa de persuasão (algo que definitivamente não consta do vocabulário dos idiotas, entre tantas outras palavras) frente ao ato que não conseguiu evitar. Porque, por mais que a notícia ganhe repercursão, sempre haverá gente estúpida o suficiente para ter pena somente dele, não do mendigo. "Ora, vejam só, isso é que dá tentar defender vagabundo". Como se o "vagabundo", já bastante ferido em sua dignidade, não importa se ele fume crack, se resolveu morar na rua por opção, entre outras hipóteses, não fosse um ser humano, que necessita de amparo e de atenção. Imagino que esses jovens que ficam em grupo procurando crimes para cometer é nada menos do que a materialização do pensamento de uma parcela da população que depois de domesticar os mendigos com esmolas (afinal é somente isso que podemos dar, o Governo que faça o resto), sente-se ofendida com o contínuo peditório deles, (afinal o Governo não faz nada, então resta aqueles que nos dão esmolas) e, pela lógica (deles), extirpar "gente" assim do mundo é o ideal. Higienização necessária, como as rampas anti-mendigo de São Paulo, por exemplo.
Afinal a própria reação dessa parte da sociedade que só aceita caridade de televisão que esquece-se de que há maiores carentes (não são crianças rechonchudas, mas são tão desamparadas quanto) parece nos dizer "Nem tente ajudar. Ajudar dói."
E muito.

2 comentários:

  1. Então, eu sou aquela encrenqueira que não aceita furarem a fila, que não aceita falta de educação com funcionários e que fala. Com meus 1,56 de altura, eu tenho medo de morrer, às vezes, porque minha indignação não mede a altura de quem eu estou enfrentando... Por vezes já sofri ameaças do tipo "eu te pego lá fora" "cuidado quando for andar na rua"...
    Mas é o meu compromisso com a humanidade, não vou abandonar esse fardo. Se eu quero um mundo melhor, vai ter que começar comigo mesmo...

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  2. Olhando essa matéria lembrei de outra q vi ontem do officeboy e lutador que morreu ao reagir a um assalto.

    o dinheiro não era nem dele, eram 8 mil da empresa!!

    ele imobilizou o bandido em segundos numa boa e daih o fdp chamou o comparsa e falou: mata esse desgraçado!
    com um tiro a queima roupa o moto boy morreu!

    Duvido que a empresa tenha levado nem uma coroa de flores ao velório!!!

    FODA!!!

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