segunda-feira, 5 de março de 2012

Tantos Galdinos



Aconteceu novamente. Causou espanto e revolta. Novamente. E novamente esfriará nas memórias do povo, da justiça, da discussão política e da educação, até que um novo atear de fogo venha esquentar a memória.

A lógica “saneante” de limpar os problemas das cidades, as mazelas da sociedade, povoa os dias, mesmo que não queiramos. Como resolver o problema da população de rua? Onde “esconder” os sem-teto que maculam o cenário turístico das metrópoles, quando se sabe que não há lugar para eles? Gestores resolvem com remoções. Violam o direito à cidade que cada indivíduo tem. Eles não ficam bonitos na praça, não cabem nos postais. São retirados e amontoados nas periferias, nas favelas, até que passe a alta estação e se espere da população nativa a aceitação de olhos fechados para aquilo que não quer ver.

Os olhos civis têm visto pela mesma lógica de limpeza do poder público. Com o diferencial da violência desinstitucionalizada, a agressão à vida, o apelo irracional, o ato que faz duvidar o pertencimento àquilo que se chama humanidade.

Outros Galdinos foram queimados. E são, cotidianamente, quando ignorados, invisibilizados, escondidos embaixo do tapete, de um banco de praça, de folhas de jornal: índios, moradores de rua, sem-teto, dependentes químicos, crianças de rua. Todos prestes à combustão diante dos olhos de uma sociedade que se nega a enxergar.

Um comentário:

  1. Isso é preocupante e revoltante, como o caso do funcionário do Bacen que atirou em dois indigentes também.

    Estamos perdendo o tato, o falso respeito que torna o comportamento ao menos, digamos, protocolar, aceitável.

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