Manchete de Ontem: Holograma do rapper Tupac Shakur pode fazer turnê.
Esqueça
Tupac. Esqueça o rap. Imagine que você está assistindo ao festival
de Coachella e, de repente, cantando com um cantor que você gosta,
aparece um holograma de outro artista que você também gosta que
morreu há quase dezesseis anos. Ao me imaginar nessa situação eu
fiquei um pouco desconfortável.
A
tecnologia pode ser um fator que causa desconforto em alguns, talvez
por ter alguma relação com o medo de que o mundo seja dominado pela
inteligência artificial das máquinas e coisas do tipo.
O arrepio
na espinha por ver uma pessoa morta cantando e dançando em 3D também
é um pouco assustador e por mais cético que você seja, é muito
estranho ver uma animação muito real das performances de um
“fantasma”. No meu caso, pensei em minha reação a ver alguém
como Kurt Cobain numa performance no palco e acho que a sensação
seria bem mais assustadora que agradável.
Mas ao
refletir bem, concluí que o que me deixou mais incomodada com esse
holograma, que pode até sair em turnê, não é nenhum dos motivos
acima. Sempre tenho a sensação de que estamos vivendo na era das
repetições. Hollywood exaure filmes com seus incansáveis remakes e
sequências desnecessárias. Contam e recontam histórias, fazem
reboot de franquias e as pessoas continuam comprando, acompanhando e
prestigiando essa “criatividade” cíclica. A cultura pop de hoje
é muito mais feita de coisas muito parecidas umas com as outras do
que me recordo de qualquer época no passado. Música, TV, cinema:
tudo parece muito mais “tudo igual” do que antes.
Parece
que quando tudo ficou mais acessível, esse tudo está virando uma
coisa só e, no mínimo, “ressuscitar” cantores mortos em shows
seria uma concorrência desleal com tudo isso que existe por aí.
Não que
não exista mais criatividade ou que as pessoas não sejam mais
criativas. Existem milhões de coisas incríveis sendo inventadas e
algumas são surpreendentes. O que acho que talvez esteja acontecendo
é que as ideias novas estejam tendo muita dificuldade de entrar num
mundo sufocado por essa repetição. É como querer plantar uma
semente frágil num campo tomado por ervas daninhas que se fortificam
a cada dia.
E eu
adoro o passado. Sou extremamente saudosista por eras que nunca vivi.
Escuto músicas antigas, leio livros antigos e assisto a filmes
antigos. Mas acho que essa história do holograma incomoda muito
porque talvez seja um sintoma de que esse loop de cultura está
bizarro demais. E se um cadáver pode competir diretamente com
artistas atuais e talvez até ganhar, algum problema existe.
Ahhh! Eu ia comentar e acabei esquecendo.
ResponderExcluirEntão, que a indústria do entretenimento em geral anda em crise, não é novidade.
Me preocupa muito isso, de um cara morto a tanto tempo ser transformado em holograma pra fazer show e tal.
Acho que a tal "cultura pop" está em processo autofágico. Foi tanto tempo fomentando artistas medíocres, gente ruim mesmo, que acabaram dando tiro no pé com a falta de continuidade.
Hoje em dia não fazem "artistas" para toda a vida. É coisa de temporada...
Aí precisa ressucitar o Tupac...
Complexo