terça-feira, 10 de abril de 2012

O paradoxo do "desenvolvimento"


Em um encontro da presidente com os integrantes do Fórum do Clima, ela atentamente ouviu uma ambientalista, tomou nota de suas queixas sobre a política energética brasileira, e depois respondeu: "Eu não posso falar: ‘Olha, é possível só com eólica iluminar o planeta.’ Não é. Só com solar? De maneira nenhuma.". Dilma falou não apenas como presidente, mas como especialista.

Depois de muito refletir, acho que Dilma tem toda a razão: é fantasioso, impossível. Por essa e muitas outras razões, concluí que o desenvolvimento é quase necessariamente predatório. Isso me deixou triste e desanimada.

Eu acredito que temos certas obrigações com o meio ambiente. Não é uma questão de "nobreza de espírito", é mais egoísta. É por admiração à riqueza da fauna, flora e paisagem, e também por uma questão de sobrevivência.

A alguns anos descobri um comediante, George Carlin, que em um stand up disse verdades e absurdos engraçados sobre salvar o planeta, baseado num princípio que sempre defendi: não precisamos salvar o planeta, afinal ele continua fazendo o que sempre fez, que é orbitar em torno do Sol. Claro, não se pode levar todo o show de Carlin a sério (afinal, ele é um comediante), mas em muitos pontos ele também tem razão. Recentemente, Hawkings também deu seu parecer: a humanidade tem probabilidades muito pequenas de sobreviver na Terra por mais cem anos.

A quem culpar? Talvez o Capitalismo, nosso vilão recorrente favorito. Eu, particularmente, culpo a medicina. Afinal, o mundo é capitalista há mais de 500 anos, mas sem os antibióticos e as vacinas, o mundo não teria tantas pessoas. Morreríamos velhos e doentes aos 50 anos, sem onerar tanto os recursos naturais da Terra. A Europa Medieval (sanada e quase dizimada pela Peste Negra) que o diga.

Então, a humanidade precisa de uma praga? De um predador? Não, somos muito competentes: o progresso da humanidade já é e vorazmente cresce como a grande ameaça à nossa sobrevivência. Nosso desejo de prosperar, viver até os 100 anos, controlar doenças, conquistar... Nossa aversão à simplicidade, nosso ímpeto de sair das cavernas... 

Antes que retornemos aos tempos em que a igreja condenava a ciência e alguém encontre em minhas palavras os motivos pelos quais deveríamos ter nos voltado para os templos ao invés dos laboratórios, gostaria de deixar claro que também culpo o "crescei-vos e multiplicai-vos".

Não acredito que o beco sem saída em que nos encontramos seja o "sinal dos tempos", o castigo divino. Assim como muitas outras, somo uma espécie que chega ao fim de seu ciclo evolutivo. Somos a última ponta da Curva de Gauss, e fomos ingênuos em acreditar na "perpetuação" da espécie. 

Assim que a humanidade, suas vacinas e antibióticos estiverem extintos, surgirão novas bactérias, capazes de se alimentar de plástico, realizar respiração celular com monóxido e dióxido de carbono, colonizar o concreto, os grãos de areia de todos os desertos, e os "Tietês" que teremos deixado para trás...

A vida,  mas não a humanidade, se perpetuará.
Nós seremos apenas o petróleo do futuro.

2 comentários:

  1. Apesar de meu estômago gelar diante das posições da Dilma a respeito das questões ambientais, sou obrigada a concordar com ela, principalmente qdo ela disse que como presidente precisa dar respostas a questões que não são ambientais...

    É desesperador pensar nisso td, pensar que os homens, ditos racionais, não conseguem pisar no freio... Talvez porque, como disse Bauman, não há ninguém no poder. O coletivo tem vida própria, o sistema virou um ente intangível, um deus, cujas decisões são tomadas sem que ng possa influir... Não sei se é culpa do capitalismo, mas é culpa do coletivo.. E é estranho pensar que justo o coletivo, que teoricamente representa todos nós, não é comandado por nenhum de nós...

    Viagens, Viagens, Viagens...

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  2. sério, você escreveu umas boas verdades.
    parabéns!

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