sábado, 9 de junho de 2012

Por que não antes?


O Brasil em seus eternos paradoxos consegue ser uma das poucas nações do mundo que tem uma presidenta, mas ainda assim a participação feminina no Executivo e no Parlamento como um todo consegue ser o segundo pior do globo. A despeito de a maioria da população ser de mulheres, parece que a eleição de Dilma, foi muito mais uma "concessão", uma chance dada como aquelas chances que se dá em quem não confia muito. Ao menor sinal de equívoco, generaliza-se e pronto, acabou a "festa".

No entanto, é importante anotar que o fato de ser de um sexo diferente, ainda que esculachadas como as mulheres são no Brasil, o simples fato de ser mulher não a livra da pior(?) parte, que é ser humano. Se @s brasileir@s como um todo não mudarem suas práticas políticas, enxergar uma candidatura feminina (nem adianta dizer que candidaturas feministas não emplacam em um país pobre de ideias e de pensamento crítico - elas sempre serão enxergadas como as malucas descompensadas e sequeladas), será mais do mesmo, até porque as gatas pingadas (salvo raras exceções) acabam reproduzindo o modus operandi dos políticos, vide a Jaqueline Roriz, no DF, entre tantas outras mulheres que, como seres humanos, acabam fazendo justamente as mesmas coisas dos políticos, inclusive na perpetuação de discursos absurdos. Vide as deputadas evangélicas, católicas, etc.

Política como um todo, além do debate, envolve propostas. E, infelizmente, por mais que as mulheres apresentem propostas infinitamente superiores às dos homens, vivemos numa sociedade tacanha e medíocre, em que, muitas vezes as próprias mulheres, como mães, tratam de incutir nos filhos uma ideia errônea do papel do sexo feminino dentro da sociedade. E daí vêm as piadinhas, as desconfianças, o desprezo... Ainda acho que o estudioso que disse que a igualdade na política só será alcançada daqui a 170 anos está sendo tremendamente otimista. Com essa educação que nós temos, se conseguirmos tal igualdade daqui a 170 séculos, ainda será uma previsão razoável, porque o Brasil e o seu gosto por contradições, não consegue rimar desenvolvimento econômico com desenvolvimento social. A nossa cultura de massas industrializada acaba atrapalhando os poucos espaços que poderíamos ter para alterar esse panorama, a partir do momento em que continua restringindo o papel da mulher àqueles espaços costumeiros, restando àquelas que se sobressaem um local onde elas serão reconhecidas como vencedoras, mas não como exemplos de que outras podem chegar aonde elas chegaram. É como se dissesse "sou única, sou distante, você só pode sonhar em estar no meu lugar".

A batalha da mulher por algo mais do que uma mera previsão de 170 anos para a igualdade em alguma coisa é diária, mas, no afã de protegerem-se, quase sempre têm de se conformar em lidar - e não combater - com o discurso patriarcal e machista. A minoria que estudou, que conhece mais amplamente as conquistas históricas da mulher (não aquele que é apresentado como somente o gritador e pitoresco, mas o que trabalha efetivamente para as conquistas) é a que segura a onda e mantém o debate aceso, topando, como bucha de canhão, com gente imbecil (como alguns dos comentaristas da matéria do Portal Terra), e que muitas vezes sequer recebe a gratidão de suas companheiras.

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