sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Nós, as cidades e as emoções


Antes que me acusem de bairrista e megalomaníaco (afinal, a mania de grandeza dos recifenses já é um folclore - cultivado, a propósito, o que não me agrade) a ideia dos espanhóis Angel Mestres e Tomás Guido, do paulista Ricardo Ribenboim e do pernambucano Edgar Andrade é bem legal e liga, inicialmente, Recife, Barcelona, São Paulo e Madri em um projeto que envolve muito mais do que os gestores oficiais para se pensar as cidades. O projeto, que terá um portal a partir do dia 15 do mês que vem, pretende fazer com que os habitantes destas cidades cadastrem seus perfis e comecem a opinar sobre variados assuntos, tais como diversidade, estilo de vida, habitação, sustentabilidade, trabalho, participação social e espaços públicos.
Acho a iniciativa fantástica, principalmente em época de eleição; embora, infelizmente, saibamos que a participação popular efetiva nas decisões das cidades seja quase nula. Afora aquela parcela da população suficientemente esclarecida e participativa que se interessa pela procura das soluções para os problemas urbanos, grande parte do povo - por omissão ou desleixo - preocupa-se em fugir de tais coisas (por crer que os gestores são competentes o suficiente para resolver a tudo ou por achar política muito cacete). A não ser que os problemas lhe afetem diretamente, como o bueiro vazando esgoto ou a buraqueira nas ruas. No mais, pensar a cidade é algo impraticável, até porque o envolvimento emocional é muito imediatista e restringe-se a essas pequenas situações. 
Por isso que apelar para o emocional possa ser algo bom para mudar tal panorama. A concepção em si não é nova, está presente na Teoria da Deriva, um dos pilares do pensamento dos situacionistas de Paris e convida as pessoas a olharem suas cidades com um olhar diferenciado. Afinal não é somente onde moramos, é onde vivemos e parece que a velocidade do nosso cotidiano faz-nos imaginar que apenas sobrevivemos e não deve ser assim.
A responsabilidade pelo lugar onde vivemos não deve ser somente delegada aos políticos que muitas vezes estão pouco se lixando para aquela praça degradada ou aquela rua que alaga sempre na época das chuvas. Estarmos sempre a reconstruir nossas impressões acerca do lugar onde habitam nossas recordações, onde crescemos como humanos e cidadãos vai muito, mais muito além do simples digitar o voto na urna. Não serão a especulação imobiliária, o comércio ou os órgãos públicos que  guardarão essas emoções, esses sentimentos. Muito pelo contrário, o pensamento deles acerca desses espaços nos quais nos movimentamos passa muito ao largo desse olhar que somente nós depositamos por onde passamos. As cidades não deixam de ser organismos pulsantes, cuja memória se une à nossa e constrói a nossa vida.

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