domingo, 21 de outubro de 2012

O que te preocupa?

"O povo não está preocupado com isso. Está preocupado em saber se o Palmeiras vai cair e se o Haddad vai ganhar" - Luis Inácio Lula da Silva

Diga-me, brasileiro: com o que você realmente se preocupa?

Em diversos fóruns, Facebook a dentro e a fora, vi sindicalistas furiosos com a decisão da justiça de suspender a publicação do jornal de sindicato com texto a favor do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.  Alguns usaram inclusive o termo "censura" para definir a decisão judicial. Eu, particularmente, considero muito pertinente a proibição de colaboração de entidades sindicais em campanhas políticas. 

Uma líder sindical se manifestou em certo fórum: "quer dizer que direção não pode declarar voto?".  Como todo cidadão, um sindicalista, indivíduo, pode se engajar na campanha política do candidato que considerar pertinente, e pode declarar voto.  Considero a declaração de voto de sindicalistas tão relevante quanto a de intelectuais ou qualquer outro tipo de formador de opinião. Entretanto, o jornal sindical, impresso com recursos provenientes da contribuição de sindicalizados com os mais diversos posicionamentos políticos, não é meio adequado para isso. Que o sindicalista faça como todos os demais: encha seu carro de adesivos, suba no palanque se julgar pertinente, diga suas opiniões em seu Facebook, Twitter, Blog.

Como foi possível observar na longa e abafada campanha salarial dos servidores das universidades federais, somos um país no qual movimentos trabalhistas são fracos, não tem apoio público, e são ignorados sempre que possível pela outra parte envolvida na negociação. Inclusive por isso, entidades sindicais devem ser protegidas de interesses alheios a seu propósito inicial: defender a causa dos trabalhadores.  Ainda que a negociação política seja uma das muitas ferramentas que podem ser utilizadas por um sindicato, o seu envolvimento direto em campanhas desvirtua seu propósito.  É evidente desde a eleição de Lula à Presidência da República o crescimento da presença de pessoas oriundas das entidades sindicais em cargos eletivos.  Hoje, muitas vezes observamos sindicatos sendo utilizados como ferramentas política: mesmo sem conseguir alcançar seus objetivos junto às mais diversas classes trabalhistas, de professores a servidores dos correios, bancários e metalúrgicos. Hoje temos um ex-professor no segundo turno da disputa pela Prefeitura Municipal de São Paulo,  um ex-bancário Deputado Federal, e um metalúrgico ex-Presidente da República. 

Ainda assim, muitos trabalhadores não se sentem representados por seus sindicatos, deixam negociações insatisfeitos não apenas com o resultado, mas com o posicionamento das entidades sindicais. Qual é a razão?

Hoje um colega me contou que o está havendo uma gigantesca mobilização no Facebook para desmoralizar alguém aí (não entendo de futebol) que suspendeu Ronaldinho Gaúcho por um jogo, enquanto um vídeo no qual são mostrados os custos de um Deputado para o Brasil padece com pouca divulgação.  Eu particularmente fiquei perplexa com a honestidade de Lula ao revelar seus pensamentos sobre o tal "povo" e suas prioridades, mas infelizmente imagino que ele tenha razão sobre a primeira preocupação: o futebol. Tanto deve ser, que o Banco Itaú apostou forte na sua campanha publicitária "Vamos Jogar Bola", assim como a Brahma com sua "Pessimistas, pensem bem", que se não fosse uma propaganda de cerveja, certamente seria do governo.

Somos um povo de prioridades equivocadas. Contando que não falte cerveja, o churrasquinho, e o futebol ou qualquer outra válvula de escape, pouco importa se políticos são culpados, se sindicatos são desvirtuados, se faltam leitos nos hospitais ou se professores apanham de alunos na escola.

O Brasil padece pelo descaso do brasileiro.

Um comentário:

  1. Não me importo se as pessoas curtem futebol, discutem futebol, se preocupam com futebol. O problema está em SÓ se preocupar com futebol. E eu conheço muita gente assim.

    Ótimo texto, Lana. Compartilhei.

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