quarta-feira, 29 de junho de 2011

De dá dó

Manchete de ontem: 25% passam fome (notícia de um ano atrás, mas atual)


Plantei feijão
Cresceu desgosto
Sem gosto
Regado em sangue
Facões, canos, filho e mais filhos
Fome, sede, sem tempo
Colhi como uma errante
Para dar na boca de meu inimigo
Um engravatado sem ética
Uma morte sem princípio
Um contrato sem senso
Uma assinatura sem reconhecimento
Um furto da minha fome
Um roubo da minha terra

Juntei moedas
Matei boi magro
Tomei água do barro
Peguei meu filho
Coloquei em meu peito
Andei para pedir proteção a Deus
Mas o que me restou foi um tiro na boca
E da gargante de meu filho
O sangue se despejou
E o grito calou sua fome
Não pude segurá-lo em minha calejada mão
Porque na outra me restava a morte

O conflíto não me deu tempo para o adeus
E minha única condição era aguardar de meu marido
Um enterro injusto aprovado por esta merda de nação

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