Desculpe a pretensão, caro
leitor, mas hoje vou escrever um post sobre todas as coisas, utilizando a minha
vasta ignorância sobre todas as coisas. Sou ousada, não sou?
O fato é que há apenas uma
certeza: a incerteza.
E antes que você me mande catar
coquinho, coisa que eu sou geneticamente programada pra gostar de fazer, deixa
eu me explicar? Deixa?
Tudo começa com a vida, a vida
mostra todos os dias que você tá no sal. Pra você esquecer isso, duas atitudes
que devem ser tomadas simultaneamente: nunca olhar pra quem está melhor que
você e sempre olhar pra quem está pior que você. Vou te dar um exemplo prático:
esqueça o Mark Zuckerberg, pense na Somália. Aí você consegue se sentir uma
pessoa privilegiada, afinal, você tem uma vida muito boa e nunca perdeu ninguém
que amou devido à fome.
Depois que a vida te mostra que
você tá no sal, você vai amadurecendo, você cresce, seu horizonte expande e
você percebe que o mundo inteiro está no sal também. Lindo, né? Lá se vai
aquele sentimento de solidão, afinal “tamo” ferrado, mas “tamo” junto! É isso?
Mais ou menos... porque você acaba ficando deprimido, e a solução pra depressão
é focar no imediato e na realidade ao seu redor. E aí você começa a pensar: que
se dane a fome na África, a bolsa ou a inflação, porque o importante é seu
salário no fim do mês (e você faz questão de esquecer que com a inflação seu
salário vai rendendo cada vez menos).
Mas a era digital e sua compulsão
por livros te coloca em xeque novamente.
Você tem acesso à informação, você consome a informação, você se
desespera com a informação... E por mais que seu salário dê pra pagar as contas
e até pra fazer um pezinho de meia, você continua lembrando que “tamo” tudo no
sal.
Na verdade, o que te cansa nem é
o estado caótico em que o mundo se encontra. Não é a fome no chifre da África,
ou a alta do IPI nos automóveis. Não é a crise europeia ou americana, nem a
ascensão do tal grupinho BRICs. Você já se sente grandinho demais pra acreditar
em heróis e vilões, acredita apenas no caos e na incerteza, ainda que você seja
capaz sim de nomear os culpados (basicamente todos aqueles que já estiveram no
poder) ainda há a questão que reina permanentemente: alguém teria sido capaz de
oferecer reais soluções?
Afinal, o mundo tentou globalizar
ignorando a África, ou pelo menos a região mais pobre dela, bem como qualquer
outra parte do globo que não tivesse nada a oferecer. Culpam os USA e os países
“desenvolvidos” (que em breve devem ser nomeados de países decadentes), mas
você não acredita em vilões e você pergunta: o Brasil esteve preocupado com a
Somália ou com a Coreia do Norte? Não, mas esteve preocupado em fazer a paz
entre o Irã e o mundo. Por quê? Porque o Irã é um mercado e os países que tem
fome e miséria quase absoluta não são um mercado. Os países funcionaram por décadas
como empresas, interessados apenas nos potenciais parceiros comerciais. E isso
não vai mudar, você sabe disso, e você sente vontade de mandar pastar todos os
idealistas desinformados que não vêem a hora da era dos “Bric’s”começar (opa,
já começou, não?).
Você sabe que a China, uma vez
confirmada como a grande potência mundial, não vai ser melhor que os USA,
afinal, um país que explora o próprio povo de maneira abusiva vai se preocupar
com outras nações? Você sabe que na Índia as vacas são mais sagradas do que
algumas pessoas, e que a miséria não é vista como problema econômico, mas sim
como vontade dos deuses. E se o Brasil e a Rússia mal conseguem lidar com a
corrupção interna, como podem ser o messias do caos mundial? Você sabe que não
existe solução, que o cenário é de incerteza perpétua... Que os governos se
demonstraram impotentes, que não existe FMI, ONU ou qualquer organização
mundial que seja capaz de controlar os desmandos da raça humana. Aí você ri... Porque tem gente que ainda acredita que a
solução esteja no comunismo/socialismo, mesmo depois da China, das Coréias e de
Cuba. E outros acreditam que a solução é apenas trocar os reis do capitalismo,
e tudo vai ficar bem.
Você ri porque acha que as
pessoas estão apenas se iludindo, procurando classificar quem é certo e quem é
errado, para não encarar o fato de que não há solução, e em vista disso, todos
estão errados e no sal, para sempre. Além disso, você ta ligado na parada
verdadeira, que é a seguinte: no fundo, lá no fundo, todo mundo sabe que, uma
vez no poder, acabaria se tornando um governante tão truculento quanto a
maioria daqueles que lançaram a humanidade no caos em que hoje ela se encontra.
Mas depois de rir, você decide
começar tudo de novo, e adotar a estratégia pessoal pro contexto mundial e
pensar que está tudo bem, afinal, o Brasil está melhor que a Somália e você não
precisa se lembrar da China, nem do mundo justo em que muitos, incluindo você,
gostariam de viver.
Caramba... tu escreve demasiadamente bem. Gostei!! Tamu juntas hahaha
ResponderExcluirNem esquerda, nem direita pensam nas origens de Somália, Coreia do Norte, Cuba. MAs adoram EUA e URSS. A última coisa que li aqui foi ignorância. Repensemos esquerda e direita, e neste seu artigo vemos a possibilidade disso!
ResponderExcluir"Solucionar o mundo" sempre foi uma questão demasiadamente complexa. Comparando com outras situações, é como mudar o curso de um transatlântico? Acho que não, está mais próximo de alterar a órbita de um planeta.
ResponderExcluirEmbora a Europa clame pela invenção e batismo do Liberalismo (ou Capitalismo), não se trata de nada além de uma expropriação mal adaptada de um sistema adotado 6 séculos antes por árabes e judeus.
Acontece que esses europeus (que se acham o supra-sumo da inteligência e refinamento, mesmo amargurando 5 séculos de medievalismo e não sabendo tomar banho até hoje) se esqueceram de algo muito, muito básico: essencialmente, o capitalismo funciona bem enquanto solução local. O Capitalismo deve ser doméstico, não global.
Não que seja impossível negociar com os vizinhos, mas conceitos como alavancagem, de onde derivam coisas como balança comercial, défcit, superávit, derivativos, debendures, bolsa de valores, e outras tantas coisas que provocam o caos, não eram originalmente concebidos no primeiro molde capitalista.
É básico e óbvio o princípio de que um país não deve comprar mais do que vende, e valores devem ser estabelecidos não pelo humor do mercado ou de quem compra e vende ações, mas balizados em conceitos mais sólidos. Acontece que queremos inventar dinheiro, e fazer isso rapidamente. Não basta enriquecer um país a longo prazo, o negócio é fazer fortuna imediata, mesmo que insustentável. Depois cria-se outro remendo para tapar os buracos que eventualmente surgirão em consequência dessa urgência.
O Socialismo, por sua vez, surgiu da ingenuidade, delírio e revolta de Karl Marx, sendo aprofundada por outros teóricos. Depois foi muito bem utilizada por Stalin, Castro e Kim Jong-Il (em proveito próprio, claro). Não preciso nem me aprofundar nesse assunto.
A questão não é solucionar o mundo, mas a megalomania que toma conta do ser humano. Enquanto isso não for resolvido, qualquer coisa que inventem será deturpada e mal utilizada... e vamos continuar no sal, mas "tamo" junto.
\o/
(ninguém pode dizer que a Lana não se propõe ao debate...rs)
ResponderExcluirVocê anda pessimista (realista?) e eu ando Pollyana. Acho que as coisas poderiam melhorar, mas a coisa tem que ser local, individual, enquanto se esperar uma mudança de baixo pra cima, ela não vai acontecer.
Ótimo³³³³ texto.
=*
Nascemos no sal, morreremos no sal. Nesse meio tempo vamos tentando temperar na medida certa para não sermos descartados do cardápio, se é que me entende!
ResponderExcluirAdorei o texto!
Dai,
ResponderExcluirA família é tagarela, e adora um debate, sempre. hehehe
Também esqueci de dizer que o texto está ótimo. Grande candidato a ser meu favorito dos seus, entre tantos muito bons.
Não considero pessimismo, mas é uma análise bem razoável dos fatos, condizente com tudo que vemos por aí.
São posts assim que, na minha opinião, ganham os leitores. Ousado e polêmico. Não importa o tamanho do post, quando é bom, a gente quer é mais.
ResponderExcluirSobre o assunto em questão, gostei da maneira como foi apresentado, e concordo principalmente com a parte da alienação: se tornou o método mais indolor e fácil de se lidar.
O problema não é ser bobo, pessimista, esquisito, grosso, individualista, bebado, assassino, coisas ruins, o problema é ser superficial, não ligar pro próximo ou pro todo, e isso aí esta enraizado na cultura subdesenvolvida.
Quanto a solução... esta em cada um nós que consegue ser cabeça dura o suficiente pra duvidar do que é "certo", "moda", e na maneira como vamos conseguir transmitir essa rebeldia para as próximas gerações, uma vez que pelos menos as próximas 4 ou 8 gerações já estão comprometidas com a alienação, mesmo antes de existirem.
Opa, vou deixar pra discutir com a Lana ao vivo, q é mais emocionante, oiauahauahaua.
ResponderExcluirBrincadeira...
Então, gt, mto obrigada pelos comentários... Tava mto insegura em postar o texto, pq ele ficou mto longo, e sei que não é fácil ler textos longos sobre esses assuntos...
Concordo com o que foi dito por vcs sobre mudanças locais, mas confesso que é desanimador ver o qto as nossas ações são de pequeno impacto, até nas comunidades onde somos atuantes... de qq forma, como não dá pra parar o mundo e descer... o jeito é continuar tentnado! =)