Os loucos são os outros.

Manchete de Ontem: Lobotomia faz 75 anos: De cura milagrosa a mutilação mental.

Lendo essa reportagem sobre a história da lobotomia, confesso que meus neurônios ferveram... Compreendo o fato de pessoas desesperadas se submeterem a técnicas invasivas e abusivas em uma tentativa de se encaixar dentro dos padrões ditos normais. Compreendo também quem não compreende pessoas que fazem isso. Só não compreendo os médicos que aplicam tais técnicas tão irresponsavelmente... A lobotomia é coisa do passado, mas quantas técnicas ineficazes e destruidoras estão em uso hoje e amanhã serão consideradas estúpidas? Acho que ninguém sabe... E mesmo não sabendo, alguns arriscariam responder “todas”, outros diriam “nenhuma”.

Entre céticos e entusiastas, estou aqui, em cima do muro. Há alguns meses me submeto há um tratamento para um transtorno que não tenho certeza que tenho, depois de um ano pulando de consultórios em consultórios.  Desde então, li reportagens desesperadoras a respeito, e outras animadoras... Escuto pessoas dizendo “não faça isso”, como se eu estivesse pulando em um precipício, e também vejo olhares de piedade, como se eu estivesse procurando problema onde não existe, como se eu fosse apenas uma pessoa incapaz de lidar com as coisas da vida, e por isso tenha ido parar em um consultório psiquiátrico. Pronto, falei as palavras mágicas: “consultório psiquiátrico”. É nessa hora que pessoas de diversas classes sociais, crenças e des-crenças se unem, em uma multidão de olhos arregalados.

O fato é que não me importo.  Só fico me perguntando, o que faz as pessoas se tornarem tão donas da razão? Onde é que eu compro um pouco dessa certeza pra mim? Estão sempre tão  certas sobre o certo e do errado, sobre a fórmula correta, sobre o método ideal...   Sempre se dizendo normais, e sempre enlouquecendo outras pessoas... E comumente os que enlouquecem os outros, serão os primeiros a condená-los por não suportarem os problemas sozinhos... E os médicos, nisso tudo, podem ser loucos ou normais, tanto faz. O que eu sei, é que não sou louca ou problemática, se eu for comparar, sou muito mais normal do que a maioria da multidão de olhos arregalados.