quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Algumas coisas que as pesquisas não mostram...

50 tuítes sobre a vida na favela


Tava vendo esses dados do censo e lembrando que dia desses conversando com um grupo de novos amigos, uma das pessoas tacou o pau nos favelados, dizendo em meio ao blá, blá, blá, que na favela só tem traficante e ladrão, sem contar que o povo é muito mal educado, como morar à beira mar de Boa Viagem (área nobre do Recife) lhe desse conhecimento aprofundado de causa. Esperei-a terminar o discurso e, insuportável que sou, fiz as minhas considerações:

“Longe de ser um paraíso pra se viver, ainda assim a favela é um dos lugares ‘menos ruins’. Bem como em todo lugar do mundo, lá tem sim muito mal-educado, ladrão traficante e outro monte de coisa ruim, mas tem muita gente de bem, que quer crescer e trabalha duro pra construir uma realidade diferente e esses são maioria.

Há também quem prefira continuar vivendo na merda, mas, se a gente analisar direitinho, isso é opção: como a que eu, favelada, tenho de usufruir da bolsa do ProUni - e aí não cabe discussão - pra ter uma formação e mudar de status social e a que tem um playboyzinho que, ao invés de estudar e seguir os passos bem sucedidos do pai, opta por torrar seu rico dinheirinho com drogas, noitadas e terminar a vida na prisão. É uma questão de oportunidade sim, mas, muitas vezes, e, sobretudo, de escolha mesmo, não tem nada a ver com classe social, ou endereço... Ah, mas entendo você, dentro da favela tem muita gente que pensa assim. Um dia também pensei.

Acredite, mesmo sendo uma favelada, não me sentia igual e tinha vergonha, porque sempre achei que a vida é mais que aquilo ali. Hoje posso falar tudo isso com a propriedade de quem vive os dois lados da moeda: atualmente sou quase que onipresente, me desdobro pra conseguir morar em dois lugares ao mesmo tempo: na favela, na qual nasci e que chamo carinhosamente de ‘buraco’ (e só quem é lá pode chamar assim) e vivo até hoje, e num ‘bairro de bacana’, da região metropolitana do Recife, onde resido, também, há pouco mais de um ano. Agora, depois de mudar ‘parcialmente’ de endereço, morando num lugar onde nos primeiros meses sofri duas tentativas de assalto, ninguém responde ao meu bom dia, a não ser o porteiro, onde vivendo há mais de um ano nunca vi a vizinha do apartamento da frente, entre outras chatices, reconsiderei.

É burrice generalizar. Ladrão, traficante e gente mal educada existem em toda parte, a gente tem é que deixar de ser hipócrita e começar a abrir os olhos pra isso, também.” Calou-se.

o.O

Sou muito chata?


P.S.: Gentchiiiiiiiiii... boas festas a todo(a)s colegas e leitores do Manchete! E meus votos de que em 2012 a humanidade seja menos filha da puta. Até lá. Cheiros!

2 comentários:

  1. Tenho uma amiga , analista de sistemas, que de acordo com a classificação do IBGE, hoje em dia é pertencente à classe A. Quando criança, ela morava numa favela, em Salvador e desde os 14 anos trabalhava para pagar uma escola para si mesma, porque achava que um colégio de qualidade era importante para seu futuro. Hoje ela trabalha no BB, concursada, conhece a Europa, Estados Unidos, ajuda a família, e está construindo uma casinha na praia para passar as férias. Dois de seus irmãos são músicos de bandas de renome, também fizeram suas vidas.

    Ela é de antes do ProUni, mas conheço pessoas que se beneficiaram dele e conseguiram melhorar sua condição através dos estudos.
    Considero o ProUni um dos poucos acertos na política assistencialista do Lula.

    Pessoas assim me fazem descrer da "filosofia fatalista", aquela que diz que quem cresce na favela irá, obrigatoriamente, morrer por lá, se envolver com tráfico de drogas, sequestros e toda sorte de comportamento criminoso.

    O porteiro mais legal do meu prédio mora em uma favela, o Setor O, uma das mais violentas do entorno de Brasília - um dos lugares que conheço onde mais se marginaliza a população economicamente menos favorecida.

    É justamente por essa marginalização - responsável pela falta de policiamento, saneamento e energia elétrica em bairros pobres - que também traficantes e ladrões se abrigam nas comunidades mais pobres. Não convém traficar no Lago Sul, onde há um posto policial a cada 100 metros, e onde qualquer ocorrência de um vizinho seria prontamente atendida.

    Já no ambiente classe média de onde vim, vejo tanta gente idiota perdendo tempo e dinheiro, sustentando tráfico, buteco, oficinas e funilarias enquanto dilapidam o patrimônio de suas famílias...

    O tipo e quantidade de bobagens que um ser humano faz ao longo da vida tem a ver com as prioridades que elege para si, e não com o lugar de onde vem.

    O estranho é que isso é uma coisa tão obvia, tão evidente, mas sempre há algum imbecil pronto para confundir causa e efeito, e organizar pessoas em saquinhos conforme sua própria conveniência e estupidez.

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  2. Chata? Você foi é verdadeira.

    Grande 2012 para todos nós.

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