domingo, 12 de fevereiro de 2012

“Um problema de índole social” (?)




Bom, não sei se é do conhecimento de todos, mas dia 06 de fevereiro foi/é o Dia Internacional Contra a Mutilação Genital Feminina, mesmo sendo um assunto muito cruel, é uma luta ainda com poucos holofotes voltados para ela, mesmo com tantos dados significativos de muita violência, citarei alguns:

- Pesquisas contabilizam que cerca de 150 MILHÕES de mulheres e meninas (principalmente entre os dois e quinze anos de idade) foram submetidas à mutilação genital feminina em todo o mundo;

- Cerca de três MILHÕES de meninas se tornam vítimas dessa prática a cada ano;

- A mutilação tem como principais vítimas as mulheres do sul do Saara e de 28 países africanos. Embora essa prática seja também bastante comum nos países árabes, e na Europa e na América do Norte os imigrantes regressam para seus países de origem para mandar mutilar suas filhas;

- A mutilação genital feminina (MGF) pode tanto consistir na remoção total quanto parcial de partes dos órgãos sexuais femininos;

- A infibulação: consiste na costura dos lábios vaginais e do clitóris, deixando apenas uma pequena abertura para a urina e a menstruação;

- A excisão: extirpação do clitóris acompanhada da eliminação de parte ou de todo o lábio vaginal;

- Estas mutilações acarretam uma série de conseqüências físicas e psicológicas gravíssimas, tendo seu começo com o sofrimento e a dor da mutilação, depois com o processo de cicatrização, sem contar o risco de infecções por conta dos instrumentos rudimentares de corte utilizados que podem estar contaminados (hepatite B e C, HIV), podendo ocasionar também incontinência urinária, infertilidade, complicações durante o parto e em vários casos a morte.

E alguém vem e diz: Faz parte da cultura! Realmente faz parte... Só que as culturas não podem e nem devem violar elementares princípios de direitos humanos e da dignidade humana, direito à saúde, direito do livre desenvolvimento da personalidade, direito à integridade física e mental, direito a não discriminação, do direito à vida e do direito a não ser sujeito a tortura ou qualquer outro tipo de tratamento degradante... Concordo com um argumento que li que estes casos ficam parecendo muito mais com "violações e crimes do que com tradições culturais", não é?

Todo mundo quer ser respeitado dentro da sua cultura, só que isso não parece estar longe de ser apenas uma tradição diferente? "A ideia de respeito cultural não pode atropelar o direito humano, que é absoluto e inviolável". 

E o que fica escondido (não tanto) atrás da MGF? O machismo! 

Por isso, assim como o dia 8 de março é importante, o dia 6 de fevereiro também é uma data de luta importante e que deve ser lembrada, divulgada e discutida.  Ajudem a ligar mais holofotes!

4 comentários:

  1. Muito bom Laila!

    Apenas uma pequena observação...
    Talvez, se um dia a humanidade chegar nesse nível de não mutilar as genitálias da mulheres poderiamos até repensar o lance furar as orelhas da nossas filhas ainda quando bebes.

    Vou compartilhar seu texto.

    Bjuuus

    End Fernandes

    =]

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  2. Put'z!
    Antigamente, era defensora ferrenha de costume e tradições de culturas diferentes... pensava como alguns tolos ('Faz parte da cultura!')... com o passar do tempo, com o amadurecimento, acho, as coisas mudaram dentro da caixola... e agora traduziste perfeitamente meu atual sentimento ('Só que as culturas não podem e nem devem violar elementares princípios de direitos humanos e da dignidade humana, direito à saúde, direito do livre desenvolvimento da personalidade, direito à integridade física e mental, direito a não discriminação, do direito à vida e do direito a não ser sujeito a tortura ou qualquer outro tipo de tratamento degradante...).
    O corpo é algo pessoal e intransferível, não dá pra tratar como se fosse um objeto...

    Mas... :S

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  3. É horrível para nós imaginarmos que isso possa ser algo natural em outra cultura, da mesma forma que outras pessoas possam pensar que comer a carne bovina aqui no Brasil seja tão absurdo quanto. A nós cabe o espanto por isso... Mas é difícil compreender o que pensam as pessoas que consideram isso normal... =(

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  4. Essa questão de "respeito à cultura", respeito à liberdade religiosa, etc e tal.
    Na minha opinião, trata-se de um direito individual.
    Um indivíduo pode até acreditar ser culturalmente aceito que uma mulher sofra mutilação genital, mas impor essa crença a um terceiro, seja sua filha, esposa, ou uma desconhecida, é, sim inaceitável.
    Afinal, a mesma liberdade de crença da qual esse indivíduo se beneficia deve extender-se à mulher - maior interessada em suas próprias partes íntimas.

    Infelizmente parece que não conseguimos nos livrar de absurdos recorrentes.

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