terça-feira, 14 de agosto de 2012

Sobre a força que eu não tenho.



Minha ajudante vive me aconselhando a visitar a Vila São Cottolengo, um lugar muito bacana que faz um trabalho muito bonito, mas eu me recuso. Eu faço minhas doações, vou até a porta, mas não entro. O motivo? O pessoal que é ajudado pela Vila São Cottolengo é feliz, eles tem uma vida bacana graças ao trabalho e o empenho de quem se doa pelos outros, e eu vou chorar após 10 minutos no local. Aí me falam que eu devo ir pra perceber “o quanto minha vida é boa”. Oi? Eu vou usar aquelas pessoas pra me sentir melhor? Eu sei que minha vida é bacana, relativamente fácil. Eu agradeço a Deus e aos meus pais por isso. Eu espero amadurecer ao longo dos anos, me tornar uma pessoa mais centrada e mais forte, e conseguir fazer algo pelos outros além de mandar dinheiro, roupas e cia... Mas por enquanto, eu não consigo. E essas pessoas não precisam da minha pena, do meu choro, da minha instabilidade emocional. Quando você visita um asilo, um orfanato, uma creche de crianças carentes, você tem que levar alegria e deixar seu sofrimento em casa.

Minha mãe teve suspeita de câncer há alguns anos atrás... Era apenas gordura no fígado. Na maratona que passamos no Hospital do Câncer, nas clínicas, no consultório médico, eu era a chorona que não podia ver uma criança carequinha, ou uma pessoa triste, se sentindo cansada, diante de funcionários esgotados e endurecidos pelo tempo, que já não facilitavam a vida de ninguém... Uma coisa bacana: vez ou outra apareciam alguns voluntários, levando cafezinho e uma boa prosa pra quem estivesse esperando o momento massacrante da consulta ou do exame. Eles não estavam lá pra se sentir melhor diante do sofrimento alheio... Eles estavam lá dividindo a alegria deles, oferecendo um pouco de otimismo, tentando fazer bem.

Há quem consiga fazer isso naturalmente, há quem tenha luz própria, encanto e otimismo pra dar e vender. Eu, infelizmente, não sou dessas. Eu leio uma história como essa da notícia em anexo, e choro. Nesse caso, ainda caberia chorar, querendo ou não, o pai já superou a pior parte, já lutou e venceu... É uma coisa bonita de se ler. Mas imagina o cara ao longo da caminhada, recebendo visita de gente que usa a história dele pra se sentir melhor? Francamente... Não é altruísmo nem sensibilidade se você usa a situação de forma egoísta, pra aprender amar sua vida, pra fazer publicidade, pra bancar o bom samaritano...

Cada um conhece seus motivos, suas razões... Eu conheço os meus. Não gosto de ser egoísta porque não foi isso que meus pais me ensinaram, não são esses os valores que tenho. Fico chateada comigo por ter todas essas limitações emocionais que me fazem manter uma certa distância de algumas situações. Mas aprendi que a gente faz coisas boas pra agradecer pelas coisas boas que foram feitas por nós... A gente doa, porque a gente tem. Porque se a gente se acomodar, vai sempre gastar tudo o que tiver em futilidades, enquanto outras pessoas precisam do básico. A gente faz visitas quando a gente pode levar algo bom, quando a gente consegue dar algum suporte, quando a gente pode suprir alguma carência, quando a gente tem alguma coisa pra oferecer. E a gente dá lição de moral, quando a gente tem moral.

Eu realmente não me sinto dona de alguma razão ou moral, quando o assunto é voluntariado. Eu já fui voluntária em uma creche na minha adolescência, foi o melhor que fiz. Naquela época eu sabia ser feliz, sabia não chorar na frente das criancinhas, mesmo quando os pais esqueciam de buscá-las porque estavam ocupados demais jogando sinuca no boteco. Depois dos 18, amoleci demais. Em um orfanato, saí chorando, porque eu não tinha todo o carinho que as crianças precisavam... E as menininhas ficavam perguntando o dia em que eu iria voltar. Nunca mais tentei, não me sinto forte pra tentar agora... E só vou tentar de novo, quando eu conseguir levar alguma coisa além de instabilidade emocional. Até lá, posso ouvir as lições de moral que os outros tem pra me dar... Desde que venham de gente que se doa por vocação, por altruísmo, e não de gente que o faz em causa própria.

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