sábado, 6 de outubro de 2012

Bases Sólidas

Adriano é visto no Flamengo como pessoa doente e que necessita de ajuda


Eu gosto de futebol.

Gosto de assisir pela TV, gosto de ir ao estádio, gosto de discutir sobre, analisar escalações, torcer, gritar, me emocionar. Eu gosto mesmo de futebol.

E não é de hoje que acompanho a situação do Adriano. Desde o ano passado, quando ele foi contratado pelo Corinthians, meu time do coração, acompanho a carreira do jogador. Não vou falar especificamente dele pois não acho que tenha propriedade para isso. Os problemas pessoais do jogador são, bem, problemas pessoais do jogador. Ele tem que resolver. Mas gostaria de discutir rapidamente alguns fatores que geram jogadores de grande talento como o Adriano, mas com pouca capacidade psicológica para lidar com os louros do sucesso.

Esses dias li um post no blog do Rica Perrone onde ele determinada os motivos para o jogador de futebol brasileiro ser diferenciado: o fato de muitas crianças crescerem em favelas, em meio à miséria, sem estrutura de treinamento e etc. Segundo ele, por esse motivo, as crianças criavam habilidades incomuns e excepcionais, pois tinham que se virar nas situações mais drásticas (até procurei o link, mas não consegui localizar). Concordo com ele totalmente. Nossos melhores jogadores tem origens extremamente humildes e o preparo que recebem para atuar em campo não se reflete na sua educação. 

Aí o cara cresce e aparece. Vai para o exterior, ganha o mundo, ganha dinheiro, vira ídolo. Mas no fundo ele ainda é o mesmo moleque humilde, que teve pouco estudo, que não está psicologicamente preparado para suportar a responsabilidade de ser o exemplo. Mais: o cara não tem noção do que é a imprensa. De como esses urubus ficam rodeando as pessoas esperando a mínima falha para noticiá-la em todos os jornais.

E o menino, que não teve estrutura para crescer bem, vira uma bomba relógio. Se joga no álcool, se joga nas drogas, se deslumbra com as capas de jornais. Anos depois, quando a carreira começa a declinar, ele é capa de jornal não por suas jogadas, mas por suas noitadas. Afinal, no Brasil, jogador de futebol não pode se divertir. Tem que viver dentro do CT. Treinando, treinando, treinando.

Não vou ser hipócrita aqui de dizer que a situação do Adriano não é culpa dele. Ele é adulto e precisa ser responsável pelos seus atos. Mas a pressão da imprensa, a infância difícil e a educação incompleta contribuíram muitíssimo para que ele se tornasse a dúvida que é hoje.

Será que não está na hora de nossos clubes prepararem seus jogadores para as situações extra-campo? Qual é o papel do clube na preparação psicológica dos atletas? E, ainda, as categorias de base de grandes clubes não deveriam conter, também, aulas ESCOLARES, que tragam aos jogadores o mínimo de capacidade crítica e nível cultural?

Mas isso tudo é caro e inocente é aquele que acha que futebol existe para divertir as massas. Futebol existe para gerar dinheiro e só. Por isso, não faz diferença se o Adriano, o Neymar ou o Ronaldo têm capacidade para viver bem após a carreira futebolística. O que importa é que, em seus dez anos de carreira, eles gerem muito dinheiro para o clube e o que vão fazer da vida depois é um problema deles. Com ou sem preparo. Se a carreira for um sucesso, terá dinheiro para o resto da vida. Se não der certo, terá que trabalhar como qualquer ser humano comum depois, mesmo com o joelho detonado por causa do futebol.

Admiro o que o Flamengo faz, no momento, pelo Adriano. Alguém precisa fazer, alguém precisa acreditar. Mas acho também que esse é um exercício de remediação. Se houvesse sido feito um trabalho psicológico talvez essa situação toda não estivesse ocorrendo.


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