quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Coisa de índio e coisa de branco

Manchete de Ontem: Eliane Brum: "Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui".

Achei muito pertinente a análise de Eliane Brum sobre a questão dos Guarani Caiovás. A ganância do homem branco desde sempre é um fator preocupante. Minha situação de pessoa urbana que nunca contratou um pistoleiro para intimidar um indígena ou sem terra não me isenta de responsabilidade. Assim como você. É como diria V: se quiser encontrar um culpado, basta se olhar no espelho. Getúlio Vargas, aquele presidente eterno do Brasil, o cara do desenvolvimento e do progresso, etc e tal, começou com os problemas que culminaram na carta dos índios exaustivamente compartilhada nas redes sociais os últimos dias, mas tudo com a anuência do nosso lindo e alienado povo brasileiro.

Meu pai certa vez, diante de uma greve da gauchada residente em Goiás, na qual eles fecharam rodovias, despejaram uma carreta de soja em frente ao Banco do Brasil, etc e tal, disse uma frase muito interessante: "fazendeiro acha que plantar é uma missão, e que se eles não fizerem, ninguém mais faz". Realmente, isso acontece muito. Vieram aos baldes sulistas colonizar esse "monte de mato" que tinha no Centro-Oeste, e acreditam que isso é uma "missão", e que eles trabalham mais que todo mundo. O mato que aqui havia antes era uma coisa sem propósito, porque pequi não serve para nada, e é bobagem manter uma mata nativa para sustentar, se não os índios, pelo menos as araras azuis, tucanos, tamanduás e onças pintadas. 

O que acontece hoje no MS não é muito diferente do que aconteceu uns cem anos ou mais atrás no Sul, porque gaúcho de verdade, original, não tinha nada a ver com esse "povo nórdico", loirinho de olhos azuis. Gaúcho de verdade era bugre. Haviam muitos índios por ali, que foram exterminados (sim, a palavra é essa), para dar lugar àquelas colônias que achamos tão bonitinhas em RS, SC e PR. Pra gente tomar vinho, comer queijo e macarrão,  ter festa da Nossa Senhora da Achiropita todos os anos e Oktoberfest. Pra gente ir lá, achar todo mundo bonito.  

Aí zanzando pela net, descobri o tal dono da fazenda onde os guaranis estão. É um membro distinto da sociedade.É até registrado na ABUL: uma sigla que nós, meros mortais não conhecemos muito bem.Trata-se da Associação Brasileira de Ultra Leves. Zanzando por aí, parece também que o senhor sequer mora no Mato Grosso do Sul, mas reside em Cascavel, no Paraná. Dizem por aí que ele é gaúcho, mas pode ser paranaense mesmo. 
Fiquei me perguntando quantas outras tantas fazendas ele tem, e se usa seu ultraleve para ir até o MS pagar seus capangas que intimidam e estupram índios, para verificar sua plantação, ou se usa só para ir para as lindas praias que frequenta, como a da paisagem de sua foto de perfil no Facebook.

Índio, hoje em dia, vale menos que os animais silvestres. Ou não. Muita gente considera ambos igualmente irrelevantes, desnecessários ao "progresso". O negócio é construir rodovias pavimentadas, usar os rios como esgoto e despejo de agrotóxicos... Salvo algumas pequenas correções, é inclusive o que diz o nosso novíssimo Código Florestal. O negócio é plantar soja para os franguinhos e cana-de-açúcar para gerar etanol e glicose.

Pra quê índio, lobo guará, tamanduá e arara? Pra quê? Precisamos de carros, cidades, comércio.... 
Índios e bichos só atrapalham. Não dá dinheiro para comprar avião, ir para a praia... 


Um comentário:

  1. "índio, hoje em dia, vale menos que os animais silvestres. Ou não. Muita gente considera ambos igualmente irrelevantes, desnecessários ao 'progresso'." > TRISTE mas muita gt pensa assim mesmo. =(

    ainda bem que o parecer da justiça foi favorável... mas dá vontade de chorar qdo lembro de tudo que eu li dos comentários das pessoas =(

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