sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Rembember, remember...

Do Brasil, presidente autoriza ataque à Líbia
ONG diz ter achado em hotel 53 líbios pró-Khadafi executados
Kadafi 'morreu furioso e decepcionado', diz aliado
Novo mufti da Líbia diz que que Kadafi não era muçulmano e proíbe funeral sob rito islâmico
Líder do CNT diz que a lei islâmica será a base de novo governo da Líbia

"People should not be afraid of their government. Governments should be afraid ot their people."V for Vendetta

Amanhã é 5 de novembro, aniversário da Conspiração da Pólvora. Um homem chamado Guy Fawkes tentou explodir o Parlamento Inglês nesse dia, com o objetivo de dar fim ao governo protestante instalado pelo Rei Jaime I: durante seu reinado, católicos e outros religiosos não-protestantes eram privados de direitos a liberdades religiosas, sendo oprimidos severamente.

Saddam Hussein  foi condenado à forca dia 5 de novembro em 2006, e exatamente dois anos depois, Barack Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, o país supostamente símbolo e defensor das liberdades individuais - inclusive religiosas.

Kadafi era chamado por Ronald Reagan de "cachorro louco", e por muitos anos foi um inimigo norte-americano, acusado de financiar o terrorismo - o que de fato fez até o fim de seu regime. Em 2008, Condoleezza Rice, o pit bull de George W Bush, prestou uma visita à Líbia para dizer ao mundo que o cachorro louco agora era um amigo, e que os EUA acreditavam em seu rompimento com o terrorismo.

Obama discordou. Em 2011, veio ao Brasil e em seu primeiro dia por aqui, aproveitou a oportunidade para brincar de vanguardista irresponsável: em um país soberano que não era o seu, declarou guerra à Líbia, deixando claro a todos que o mundo é seu quintal. Depois, em um "discurso histórico" (sono), estabeleceu paralelos inexistentes entre a ditadura militar laica brasileira e os regimes fundamentalistas islâmicos, escolhendo cuidadosamente as palavras para atear fogo no Oriente Médio. Obama disse que todos poderiam ser como o Brasil: ricos, felizes e democráticos. 

Para dar ares positivos a tanto derramamento de sangue, inventaram a "Primavera Árabe". Lindo termo, e seria admirável assistir aos descendentes dos grandes patronos da matemática, astronomia, das universidades e capitalismo em uma busca por democracia e liberdade.

Com tal pretexto, a Líbia foi invadida. O ditador africano morreu temendo seu povo, e duas semanas depois,  o povo novamente teme o governo, e não sem razão: Kadafi foi capturado, sodomizado, espancado e morto por seus captores, ainda que o governo interino houvesse jurado ao mundo um julgamento no Tribunal de Haia, da mesma forma que após sua morte prometeram o enterro em 24 horas seguindo os ritos islâmicos. Ao contrário disso, seu corpo foi exposto por dias em uma câmara frigorífica para quem quisesse ver, cuspir e rir. Osama Bin Laden e Saddam Hussein tiveram mortes mais dignas, ainda que o enforcamento do segundo tenha vazado para a Internet.

A OTAN bateu retirada, os jornais já se esqueceram da Líbia, e o mundo se comporta como se agora o caos fosse exclusivamente um problema da população local. Enquanto isso, um governo provisório pretende estabelecer uma "democracia" baseada na Sharia, e entre os envolvidos na organização da "nova" Líbia,  e elaboração de sua constituição, está o ex-Ministro da Justiça de Kadafi.

Entre os líbios islâmicos moderados, cristãos e ateus, há um grande temor por um governo e legislações que extingua a pouca liberdade religiosa que existiu no regime anterior. Até porque a maioria da população não é fundamentalista, mas o governo que os deveria representar está cheio deles.

Kadafi nunca foi um benfeitor, mas ao baixar da poeira é visível que o objetivo era eliminar uma dinastia, e não fazer a caridade de libertar a Líbia da opressão: não há manifestações da Casa Branca, grande patrocinadora de toda a confusão, sobre o massacre de soldados e civis pró-Kadafi, sobre sua morte, ou sobre a constituinte fundamentalista que se forma naquele país. Esse tipo de assunto, essas '"saias justas", é melhor deixar para a ONU.

Ainda que toda a retórica ocidental jure de pés juntos "Yes, we can", não há flores ou beleza alguma na Primavera Árabe. Gostaria de saber se Barack Obama irá fazer outro "discurso histórico", assumindo sua responsabilidade, explicando a líbios, iemenitas, sírios, jordanianos e tantos outros, onde está a primavera, onde está o Brasil que o presidente americano lhes prometeu. Gostaria de saber se irá assumir o trolling político, ou se ao invés disso apenas irá sorrir ao apertar as mãos de novos opressores, que sorrirão de volta em busca de apoio comercial.

Amanhã será mais um 5 de novembro de indivíduos oprimidos por reis, xeiques, aiatolás e muftis, com mulheres sendo enterradas vivas ao lado de seus finados maridos, com burcas e niqabs sendo usados não por convicção religiosa, mas por obrigação, com homens e mulheres sendo condenados a apedrejamento ou enforcamento em praça pública, ao invés de todas as outras penas de morte ou alternativas a elas já existentes. 

No fim das contas, não há primavera alguma.

3 comentários:

  1. Assim, talvez um povo que se rebelou contra um, aprenda que pode se rebelar mais vezes, e nao aceite ser subjugado novamente..
    Mas com ctz, esse foi só o começo. E nao foi um bom começo, pq eles perderam a razão com as atrocidades na captura do cara.
    Qto aos EUA, novidade né?
    Primavera árabe, blablabla... E a Palestina? tsc!

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  2. Parabens!
    Seu blog é muito interessante!

    Bjus

    Paula Kasas
    A Moda em Acabamentos e Complementos

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  3. Eu já acho que a guerra faz parte da humanidade, sempre existiu e sempre existirá porque o poder e conhecimento sempre serão de uma minoria autoritária...

    Desisti já de esperar pela Paz, sempre existirá um motivo muito importante para bombardear alguem!

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