sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Amores e poliamores


O século XXI e suas "novidades", dirão os mais puristas. Ou pior: é o fim dos tempos, a desagregação da família, o pecado contra a moral e os bons costumes. Sintomas de uma sociedade doente e pervertida...
Esse fato demonstra que estamos vivendo uma época em que algumas pessoas simplesmente cansaram de viverem escondidas sob as máscaras exigidas pela sociedade para "se viver em harmonia". E o mais legal é perceber que, aos poucos, as esferas legais estão propensas a aceitar essas nem tão novas formas de se expressar o afeto, seja no casamento igualitário, ou união civil entre pessoas do mesmo sexo, não importa o nome. 
Ah, alguns podem dizer, mas o que a justiça aceitou é uma coisa que não vai alterar a ordem das coisas, pois é um cara pra duas mulheres, é apenas a ratificação do poder machista. Pode até ser, mas quem não lembra daquele filme '"Eu, tu, eles", que retrata algo muito comum aqui no Nordeste, de uma mulher que se relaciona com vários homens (bem como há vários relacionamentos como esse de São Paulo, às vezes de irmãs que "dividem" o marido e por aí vai) e, pelo menos os envolvidos, ninguém tá se importando muito com isso, naquela velha história de "cada um que cuide da sua vida".
Essa separação do público x privado, a despeito dos fofoqueiros e outros perscrutadores da vida alheia, é importante por aqui (como imagino que seja em outros lugares), porque deixa claro que, se não está ferindo efetivamente a vida alheia, a liberdade para se fazer o que bem entende é inalienável. E se rolar consenso entre as partes tanto quanto melhor. Como disse uma senhora de 70 anos, que dividia então o marido de 71 com uma irmã de 67 há 50 anos: "Ele paga as contas dele, eu as minhas, ela às vezes pede dinheiro emprestado a nós, mas paga as dela. E se for assim, cada um fica com o outro quando dá vontade. Ela nunca foi intrusa. Ele quis, ela quis, eu não me importo, pois sei o que ele sente por mim e eu sinto por ela e ela por ele. Mas não vou perder meu tempo explicando isso pro povo, pois quando quer, o povo pensa menos que um jumento".
Acostumamo-nos a encarar o amor como algo que só acontece entre duas pessoas, e muito mais entre um homem e uma mulher (mas isso é blá blá blá batido), e os ciúmes da infidelidade como algo que respalde essa relação, que na verdade, muitas vezes implica um sentimento de posse, ao invés da cumplicidade. Cumplicidade e amor independem de um compromisso entre duas pessoas, e se há gente capaz de compreender isso quem somos nós para dizer que estão erradas? Resta-nos fazer o óbvio: tentar compreender também.

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