sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Do fogo no rabo à "derrocada da civilização"



Perdoem-me, antes de tudo, pelos termos presentes no título. É que, não sentindo necessariamente vergonha alheia da fila na porta da Apple (ou sentindo inconscientemente, vá saber), lembrei-me das palavras da minha avó materna. Observando o comportamento de pessoas que comumente chamamos de atacadas a véia sapecava, do alto de sua experiência de vida: "Quanto fogo no rabo!"
Nada mais certo, ainda que correndo o velho risco das generalizações.
Toda vez que se lança um novo produto da Apple, (com toda a sua mística alimentada por uma geração de paga-lanches [não falo do consumidor consciente, mas do idólatra cabuloso]), é essa mesma lenga-lenga. Um monte de gente ocupada, que arranja um jeito de se desocupar, vai pra fila no afã de ser mais um entre os primeiros que sacia o fetiche de possuir o equipamento da hora, ainda que sua aura de vanguarda dure não mais do que um ano. 
Beleza, é só mais um produto, entre tantos outros que escolhemos para consumir, neste mundo onde até onde o consumo é supostamente condenado (vide China e o seu "capitalismo comunista"). Até que se invente uma nova ordem econômica (acho difícil) que suplante o então vigente, isso acontecerá, é natural. Em um mundo no qual há tão poucas coisas que relembrem algo de verdadeiramente sagrado, as pessoas vão sacralizar o efêmero, o prático, o kitsch
E isso é da natureza humana. A vaidade humana e aquela atitude cricrizenta de dizer "eu tenho, tu não tens" é algo que se superlativiza numa sociedade altamente tecnologizada como a nossa. É a velha necessidade de dividir tudo em castas, e que nesse mundinho dos tecnologizados cria beicinhos infantis como aqueles causados pela vinculação do tal Instagram ao sistema Android. 
Na verdade essas pessoas que alimentam essa segregação, se formos chatinhos e chamar assim, sabem o quanto essas coisas não perduram e cedo ou tarde a tendência é a popularização. E popularização é uma palavra que soa como ofensa mortal às pessoas acostumadas a desfilarem como deusas frente à plebe, mas sabem que hoje isso não há mais lugar nos tempos de hoje. É necessário vender, a quem puder comprar. E priu.
Por isso que achei engraçado o competente Sakamoto dizer que a nossa civilização está em derrocada pelo consumo desvairado. Sempre consumimos porque sempre produzimos. Não será o consumo que porá a civilização na sarjeta cósmica do Universo. Com certeza seria dos motivos mais patéticos à uma humanidade pródiga em se matar por motivos tais quais, mas ainda não seria o motivo principal.
O consumo excessivo pode ser um sintoma de uma sociedade doente, que privilegia o material em detrimento de valores mais autênticos (parafraseando um filósofo húngaro), que acostuma-se à pressa e crê que em um mundo no qual as coisas correm céleres, outras coisas devem ser mantidas a ferro e a fogo. E aí que está o problema, não é a tecnologia - que decerto vende o tal "estilo" ao qual Sakamoto se refere (como o cigarro Free vendia na década de 90) -, mas somente a humanidade.
A derrocada virá da insistência das pessoas não admitirem que a cultura da informação seja um meio para esclarecer mentes, mas sim de petrificar pensamentos e de espalhar preconceitos como coisas legais para uma juventude despreparada. Isso sim é que me dá vergonha alheia.

Um comentário:

  1. eu nunca vou entender o fenomenomeno iPhone.
    Nunca vou entender o que o Foo Fighters foi fazer no lancamento do iPhone. Aquilo era coisa pra Cold Play ou outra bandinha hipster too cool to be acceptable.

    As filas eh a parte que mais foge aa minha compreensao. Tipo, fila pra jogo de futebol, mencionada no post do Sakamoto, va la. Vc so tem oportunidade de ver o jogo enquanto ele acontece, mas vc pode comprar um iPhone 5 e ainda fazer parte da tal casta "vanguardista" no decorrer do proximo ano.

    Eu n tenho um iPhone, e apesar dos 160 gb, eu olho para meu iPod com certo desdem. Eu fico perplexa com o poder do marketing sobre todo consumidor, mas o caso dos seguidores de Jobs eh mais critico, como ficou claro no programa norte americano que mostrou o iPhone 4S como sendo o 5 para um monte de pessoas na rua, e todas ressaltaram qualidades do que, na verdade, era o mesmo telefone que eles ja tinham.

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