quarta-feira, 12 de setembro de 2012

...Os escritos ficam

STF Debate se há preconceito em obra de Monteiro Lobato

Nosso legado literário diz muito de nossa cultura, de nosso passado. Muitas vezes a literatura antiga nos releva hábitos e valores que já fizeram parte de nossa sociedade, mas que não necessariamente devem ser perpetuados ou admirados.  Mostra-nos, inclusive, o quanto foram nocivos.

Li livros como Mein Kampf atentamente, não para ser seduzida por suas idéias, mas para conhecer um lado horrendo da história da humanidade mais de perto, tomando consciência da parte que me cabe para que isso não se repita.

Da mesma forma, tenho em Machado de Assis uma de minhas maiores referências literárias, tanto por sua brilhante obra quanto por sua biografia: Machado é um exemplo de superação de dificuldades e preconceitos, e a prova histórica de que valores podem mudar e de que a determinação de um indivíduo o torna capaz de coisas incríveis.

Desde a primeira vez que a questão do racismo na obra de Monteiro Lobato foi abordada, busquei conhecer sobre sua obra. Se há um livro que me provoca verdadeiro horror é "O Presidente Negro". Com muito otimismo, para não perder a fé no pai da Emília, pensaria que ele não soube usar o sarcasmo, e que o livro foi um grande mal entendido. Sendo levemente crítica, o livro mostra opiniões eugênicas, racistas e machistas, totalmente condenáveis. 

Por ter provocado uma certa revolta e horror,  nos livros posteriores Monteiro Lobato ficou mais contido em seus preconceitos, mas nunca deixou de escrever sobre eles, ainda que de forma sutil, como em Urupês.  Em sua obra infantil realmente é difícil encontrar sua simpatia pela eugenia e segregação racial, mas há sinais de suas crenças em todo o restante de sua obra. O assunto causa estranheza, pois ele é conhecido como um autor infantil que embalou o sono de gerações, e a maioria não teve contato com sua obra literária adulta.

O que fazer, então? Varrer sua obra para debaixo do tapete? Não fizemos isso com José Lins do Rego ou tantos outros que representaram na literatura de forma bastante crua partes de nossa história. A obra de Monteiro Lobato serve como prova de um triste passado, que não deve ser escondido, mas sim analisado criticamente. Devemos olhar para nosso passado, aprender com ele. O anti-ético,errado, ou hediondo deve ser conhecido e condenado, para que não se repita. 

Uma sociedade que por vergonha ou falso moralismo esconde erros passados está fadada a repeti-los.

Um comentário:

  1. Não acho que a obra deve ser censurada, mas acho que não deve estar na grade curricular de crianças.

    Elas ainda não tem capacidade de entender certas nuances, e podem sim perpetuar o preconceito dos livros.

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