Médico que "receitou" cadeados vai ser processado
A arrogância é uma das mais degradantes doenças da alma. Fica ainda mais horrorosa a cena de uma arrogância quando encapada por um humor pobre, uma comedinha pseudo-sarcástica que enuncia somente um extremo mau caráter.
O médico receitou "cadialina", recomendando à paciente o uso de seis cadeados como forma de perder peso,(...) colocados 'na boca, geladeira, armário, freezer, congelador e cofre', essa piadinha medíocre, com grandes possibilidades de ser fundamentada em preconceito e racismo. Um comportamento característico do covarde, do pedante, dos almas-pequenas. Aproveitando-se da possível ignorância e condição financeira da paciente, - da pessoa por quem, dentre outras que lhe fossem pedir a assistência médica - ele vai ao extremo da piadinha e usa um documento, a prescrição médica, para formalizar a mediocridade que lhe foi inata (ou adquirida com o meio e com as suas referências intelectuais e comportamentais).
Suponho que seja uma piada de uso comum. E, pasmemos, poderia ter sido empregada por ele de forma bem mais tranquila, já que ele não deve ter aguentado segurar a oportunidade de, digamos, sacanear a paciente.
- Olha, senhora Adriana, sua situação está séria. Você tem que se cuidar. Faça uma dieta, controle sua ansiedade, é urgente que tenha que fazer a operação. Caso contrário, terá que tomar "cadialina".
- Cadialina doutor? É muito caro este remédio?
Aí, com uma risada amistosa, ainda que em momento impróprio, o médico falaria:
- É, cadeado na boca, na geladeira... hehehehe
- Ai, doutor, assim você me mata de susto! hehehehe
Dentre as muitas causas, tanto subjetivas como objetivas, que tenham originado este comportamento, um misto de bacharelismo e exaltação ao pedantismo, no modelo de ensino ainda vigente, é o que posso destacar.
Diversos são os casos semelhantes e muitos aqui devem ter também suas experiências com algo parecido. Cito, portanto, dois: 1) Estudantes de Medicina caçoando pacientes humildes, semi-analfabetos, por não saberem pronunciar nomes de doenças que eles só tiveram contato quando começaram a estudar. 2) Professor de Sociologia de uma escola municipal, movido por fúria, declama à turma que todas as meninas não passariam de envergonhadas "trabalhadoras em casa de família". Uma delas, além de inteligente, sagaz e prestativa, diz que trabalhava em uma casa de família (por circunstâncias que não interessa a ninguém) para ajudar a família e não se sentia envergonhada. Ao que o dito professor replica; "Ora, você, com este rostinho lindo, está pobre porque quer!".
Todas as consequências dessas atitudes arrogantes, por mais que pareçam pequenas dentro da "tragédia mundial" podem engendrar uma tragédia bem maior. Voltemos à cadialina, e imaginemos se a mulher acata a receita do médico e, antes de ser avisada na farmácia de que aquilo era uma brincadeira de mal gosto, ela pusesse mesmo os cadeados onde o médico lhe ordenara?
Não bastasse tudo isso, continuou com as farpas de ódio sobre a paciente e à família. Não deu explicações a ninguém senão a uma rede de televisão com a desculpa de ter usado linguagem figurada. Não, não foi isso.
"Além disso, o médico afirmou que Adriana teria problemas psicológicos e compulsão por alimentos". Quer dizer: "a culpa é dela; este caso já não é mais comigo e que morram todos de sua laia."
O médico pode "estar passando" por diversos problemas também, pode ser uma pessoa idônea e de conduta ilibada, bom pai de família, ajuda a diversas pessoas etc. Mas jamais poderia agir assim no exercício de sua profissão.
Itaipava, Petrópolis, 11 de novembro de 2012.
Thiago Quintella de Mattos
Existem vários Houses na vida real.....tanto na medicina quanto na vida.
ResponderExcluirUma pena que a ficção seja muito próximo da realidade ,nesse caso.
Pois é Renato. Mas o House chegava na moral, para o bem, mandando ver. Esse aí, pelo que foi relatado, foi, como dizia Balzac: demi-escrote! hehhehe!
ResponderExcluirAo que o dito professor replica; "Ora, você, com este rostinho lindo, está pobre porque quer!".
ResponderExcluirIsso não é um educador.
Quanto ao médico confesso ter acompanhado o caso muito superficialmente. Sei que a Fundação José Silveira andou envolvida num esquema esquisito de licitação com a secretaria de saúde da Bahia. Parece ser uma instituição séria, mas vamos ver no que dá tudo isso aí.
Mestre Jaime. Aquilo daquele professor é mote para mais uma longa carta.
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