domingo, 26 de agosto de 2012

"Campanha, campanha, educação à parte." - provérbio político brasileiro

"Não há como no Brasil se fazer qualidade da educação sem pagar bem o professor. (...) O professor, pra ser valorizado, ele precisa de ganhar bem, e mais: ele precisa ter formação continuada. Não se pode, também, estabelecer com o professor uma relação de atrito quando o professor pede melhores salários: recebê-los com cacetete, ou interromper o diálogo". 
- Dilma Rousseff, Candidata à Eleição Presidencial 2010, durante o último debate entre candidatos, realizado pela Rede Globo (2:55 do vídeo).

Manchete de Ontem: Governo diz que não negocia novos reajustes salariais com grevistas

Dizem que quando presidente, Fernando Henrique disse sobre seus livros "esqueçam tudo o que eu escrevi". Ele diz que jamais proferiu tal sentença, e não há realmente registros de que o tenha feito. Ainda assim, as palavras foram assimiladas de forma irreversível pela população brasileira. 

Por quê?  Porque é muito normal, no Brasil que a pessoa seja uma durante a campanha e sua vida pregressa, e outra totalmente diferente depois de eleita. É "normal" que um político, a cada projeto de lei votado ou sancionado, a cada ato de governo, grite em nossa cara "esqueça tudo que eu disse", e dê uma risada maligna depois. 

Em 1932, o educador mineiro Fernando de Azevedo redigiu um documento, entitulado "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova: A Reconstrução Educacional no Brasil - Ao Povo e Ao Governo". O manifesto foi assinado por alguns educadores e intelectuais brasileiros da época, inclusive Cecília Meireles. Oitenta anos se passaram desde então, e infelizmente, o documento segue mais atual do que qualquer cidadão brasileiro gostaria. 

Eu temo pelo futuro dos brasileiros. Pelos próximos 80 anos, pelo menos. Porque a Candidata Dilma, assim como Fernando de Azevedo, tem razão: não há como construir uma educação de qualidade sem valorizar os educadores, e não há como progredir de verdade se não através da educação. 

Pela falta de educação de qualidade, o brasileiro é indiferente aos movimentos trabalhistas e questões governistas: é impensável uma greve geral aqui como a que se deu na França recentemente. O ápice de nosso engajamento em prol de causas coletivas se deu na Marcha Contra a Corrupção, que já esfriou, como todos os políticos esperavam. 

Não temos fôlego ou tempo para protestos, estamos muito ocupados em nossas conchas para pensar "no povo brasileiro". Não percebemos que no final das contas, o tal "povo brasileiro" somos nós mesmos, nossos amigos, a família de todos nós, os amigos dessas famílias, e assim por diante. 

Por falta de educação, somos um povo tão vazio de empatia e preocupação com esse coletivo, tão insensíveis às necessidades das classes trabalhadoras e minorias que não fazem parte de nossos círculos cotidianos de relacionamento, que nas rodas de conversas chamamos aqueles que buscam seus direitos através do movimento grevista de "vagabundos". 
Consideramos absurdo que uma babá receba R$ 1.500,00, aquela à qual confiamos nossos frágeis filhos pequenos, e ainda reclamamos quando ela não pode comparecer ao trabalho porque perdeu 7 horas na fila do SUS levando seus próprios filhos ao médico. 

Por excesso de ignorância, o Brasil está preso em algum lugar antes de 1850: aqueles que nos servem, deveriam fazê-lo de graça e levar chibatadas no caso de recusa.  Em nossa ignorância, somos incapazes de perceber que nossos filhos serão vítimas futuras do descaso com a educação promovido hoje, e que isso não está relacionado à escola na qual ele estuda hoje, mas com a sociedade na qual ele viverá daqui a alguns anos.

A "Presidenta" Dilma sabe o mesmo que a Candidata Dilma sobre a educação: a ignorância e alienação é resultado da má educação.  Pela escola que tivemos no passado, não estamos preocupados com os professores de hoje. Ela sabe: é irrelevante o que tenha dito durante a campanha. Não importa o que ela faça com os professores hoje. 

Nós não nos importamos, e não nos manifestaremos por eles. 



*Nós, o coletivo, a "população em geral". 
Eu, individualmente, dou total apoio à luta dos professores por condições dignas de trabalho. Assim como a toda classe trabalhadora.

4 comentários:

  1. Me vi "obrigado" a publicar seu texto no meu facebook.

    Espero que aprove.

    Texto perfeito.

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  2. Não há palavras melhores que expressem com tanta fidelidade aos sentimentos vividos hoje pela sociedade docente e discente, infelizmente ainda vivemos esse período obscuro e sombrio da história da educação, pseudo democracia, pseudo liberdade, pseudo educação!
    Como eu comentei em minha página no facebook: "Odeio essa presidente que está tratando todos como retardados, ela é de esquerda? ela já foi punida por algum dia procurar melhoras pro seu país? Acho que ela se esqueceu que um dia houve ditadura militar ou ela está fazendo o papel do General Machão? ABAIXO A DILMA QUE "PHUDEU" COM A EDUCAÇÃO!!!!!!!"

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  3. Educação nunca foi política de Estado no Brasil.

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