terça-feira, 23 de outubro de 2012

A pílula da padronização



Eu demorei 1 ano e 7 meses para andar.
Sim, 365 somados com mais ou menos 210 dias para andar.
Mas andei, feliz. Meio sonsa, mas feliz.

Eu não entregava as tarefas nas datas previamente designadas pela professora. Nem levava a tesoura no dia de aulas de artes. E vestia o biquíni e o roupão no dia errado, em que eu achava que era dia de piscina. Mas aprendi a ler, a escrever, a somar, dividir, diminuir, multiplicar e tudo que deveria aprender. E me formei no ensino básico.

Eu fui uma adolescente um pouco rebelde, de unhas pretas, cabelo às vezes colorido, ouvia o bom e velho rock'n'roll em alto e bom som. Como toda adolescente. Na medida que meus hormônios foram se acalmando, fiquei mais alternativa. E me formei no ensino fundamental e no ensino médio, ainda que continuasse a entregar tarefas e trabalhos atrasados... e a tagarelar bastante nas aulas.

Nunca me dei bem com esportes, mas tirei o primeiro lugar em concursos de desenho, poesia, de música.

Eu não sabia bem o que fazer profissionalmente, cursei Direito e saí do curso meio sem saber como lidar com a vida adulta e com o diploma que eu tinha em mãos. Tive época de insônia e ansiedade.

Você acha algo anormal nisso tudo?

Demorei, mas andei. Reprovei, mas formei. E daí?

Daí que um belo dia eu acreditei que eu tinha um transtorno! Mas hoje não acredito nisso mais.

Transtornos, como o TDAH, acredito que são meras invenções para se adequarem crianças diferentes a um padrão; pessoas diferentes a um padrão. Estamos longe de saber lidar com a diferença! 

É mais fácil enfiar uma pílula pequena e branca boca abaixo do que mudar o ambiente de alguém que é, simplesmente, diferente. O sistema criou um padrão, a escola criou um padrão. Tudo é padronizado. Adaptar custa caro! Então vamos criar uma medicação para adequar os humanos: não o ambiente!

Um baixo rendimento escolar poderia ser resolvido com adaptações. Mas vamos adaptar o humano, quimicamente.

E assim o uso do medicamento vai crescendo, aumentando, em busca de uma padronização de pessoas. Porque o diferente, neste mundo absurdo, não é normal.

Reflitam!

Um comentário:

  1. Ufa, disse tudo o que eu sempre quis dizer. Talvez eu pense assim porque nunca tive dificuldade de concentração, mas não suporto a ideia de enfiar remédio goela abaixo por qualquer motivo em todos aqueles que não seguirem um padrão, seja para ficar quieto, ou mesmo para dormir.

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